Um artigo baseado no estudo “Perceptual Reorganization of Tinnitus Lateralization", publicado na revista Physiologia (2025).

Foi recentemente publicado um estudo científico que sugere que a forma como percebemos o zumbido — não apenas o volume, mas a sua localização — pode ajudar a avaliar a eficácia de tratamentos de neuromodulação. A ideia é inovadora e com potencial para mudar a forma como acompanhamos o progresso no tratamento do zumbido.

 

O que o estudo investigou

  • Participaram 104 pessoas com zumbido crónico.

  • Aplicou-se um protocolo de tratamento multimodal, que combinou:

    • estimulação do nervo vago pela orelha (taVNS),

    • estimulação elétrica transcutânea no pescoço (TENS cervical),

    • fotobiomodulação (laser aplicado no canal auditivo e mastoide).

  • Foi avaliado: intensidade do zumbido, desconforto, impacto na qualidade de vida (via questionário standard), e a lateralização — isto é, se o zumbido era sentido como vindo da direita, esquerda, ambos os lados, ou se tinha mudado depois do tratamento.

Principais Resultados e Porque São Relevantes

  • Quem tinha zumbido bilateral antes do tratamento e depois passou a sentir zumbido num só lado (unilateral) ou deixou de perceber o zumbido, registou as maiores melhorias: intensidade mais baixa, menos desconforto e melhor qualidade de vida.

  • Quem manteve o zumbido bilateral obteve melhorias, mas menos significativas.

  • A direção do zumbido — “onde” o som é percebido — revela-se, portanto, um marcador importante da eficácia do tratamento.

  • Outro achado interessante: pessoas com zumbido de longa duração — contrariando ideias comuns — tiveram respostas melhores ao tratamento multimodal.

O Que Significa para Pacientes e Profissionais

Este estudo abre caminho para:

  • Uma abordagem mais sofisticada e completa ao zumbido — não apenas “reduzir o som”, mas acompanhar como o cérebro o percebe.

  • Tornar a lateralização do zumbido um indicador de sucesso terapêutico acessível e económico.

  • Personalizar tratamentos — por exemplo, pacientes com zumbido crónico podem ser bons candidatos a terapias combinadas.

  • Dar esperança a quem convive há anos com zumbido: a cronicidade pode não ser uma barreira, mas uma oportunidade para reestruturações profundas.

Porquê a Mudança de “Localização” pode ser um Sinal de Recuperação

A perceção espacial do zumbido diz muito sobre como estão a funcionar os circuitos auditivos e somatossensoriais no cérebro.

  • O zumbido bilateral pode corresponder a hiperexcitabilidade e sincronização mal-adaptativa entre hemisférios e núcleos auditivos.

  • Quando o tratamento promove plasticidade — ou seja, reestruturação — o cérebro pode “reorganizar” essas vias, e o zumbido passa a ser sentido num só lado ou desaparecer.

  • Essa “migração” simbólica do som pode ser um indicador de normalização neural.

Conclusão

Este estudo mostra que não basta medir o quão alto é o zumbido — importa também onde ele aparece. A lateralização emerge como uma pista valiosa sobre o estado do cérebro e a eficácia do tratamento.

Para quem sofre com zumbido, e para profissionais de saúde, esta abordagem representa uma nova fronteira, mais sensível e potencialmente mais eficaz, para avaliar e tratar esta condição.