Porque é que o cérebro e o exercício apresentam uma relação neurofisiológica tão forte?

Os nossos ancestrais apresentavam um estilo de vida ativo, típico de quem precisava de caçar para sobreviver. Na sequência a fisiologia humana adaptou-se a contextos de elevados níveis de atividade física aeróbia bem como o stress induzido pelo exercício. Este facto faz com que a necessidade do exercício enquanto estratégia para a manutenção de bons índices de saúde seja na verdade um legado do nosso passado evolutivo.

Atualmente é assustador o grau de inatividade física que se observa. O cérebro parece ser o órgão mais suscetível ao sedentarismo. Porque é que o cérebro e o exercício apresentam uma relação neurofisiológica tão forte?

Vamos imaginar um ancestral humano há milhões de anos atrás a caçar, correr, saltar, agachar e arremessar para sobreviver ao mesmo tempo que o seu cérebro realizava tarefas como:

I) Navegação espacial e memorização de ambientes, tarefas, predadores e ferramentas (hipocampo);

II) Manipulação online de todas as informações (córtex pré-frontal dorsolateral);

III) Aumento da velocidade de processamento (áreas diversas);

IV) Recompensa pela comida - prazer (sistema límbico/núcleo acumbente);

V) Transmissão da informação aos pares (áreas relacionadas à linguagem), além da manutenção e fortalecimento de tratos de massa branca, que tornam energeticamente eficientes tanto o controle motor quanto as funções executivas (sinaptogénese).

Procurar comida era a coisa cognitivamente mais desafiadora que os nossos ancestrais faziam. E faziam-no enquanto se movimentavam!

Portanto estas duas tarefas (cognição e movimento) evoluíram em conjunto e este é o motivo pelo qual o exercício está intrinsecamente ligado à cognição e a razão pela qual o exercício é dos principais protetores da função cerebral, tendo a capacidade de melhorar a função cognitiva e induzir regulação emocional (Raichlen et al, 2017).

Quando um humano é deparado com um estilo de vida onde o sedentarismo reina, o cérebro reduz de forma drástica capacidades e necessidades metabólicas, induzindo a sua atrofia e degeneração progressiva. Verifica-se, portanto, uma discrepância brutal entre a história evolutiva e o sedentarismo atual.

Os anos passam, o sedentarismo aumenta e inevitavelmente uma franja importante dos profissionais de saúde e do exercício lidam de forma cada vez mais frequente com utentes/clientes com depressão, alzheimer, parkinsson, etc.

Na Masterclass Exercício na saúde cerebral e como complemento no tratamento de transtornos mentais será abordada toda a produção científica em torno deste tema e a forma como utilizar o exercício como ferramenta terapêutica nesta área tão particular.