A prescrição de exercício baseia-se excessivamente em guidelines que, mais ou menos fundamentadas, não deixam de constituir receitas genéricas, não raras vezes pouco apropriadas para as abordagens dos casos individuais.
Nos últimos anos, tem-se percebido que existe uma tremenda disparidade nas respostas ao treino e, igualmente, que as guidelines actuais nem sempre estão devidamente fundamentadas.
A Teoria e Metodologia do Treino Desportivo há muito que apregoa o fundamental princípio da Variabilidade Inter- e Intraindividual na resposta ao treino.
Na prática, porém, julgamos que este princípio tem sido sub-alternizado, devendo ser trazido para a ribalta e assumindo um papel absolutamente nuclear na prescrição e monitorização do exercício.
Acresce que o ser humano é apenas grosseiramente simétrico, sendo portador de inúmeras assimetrias, iniciadas, desde cedo, no processo de desenvolvimento embriológico.
Essas assimetrias – musculares, fasciais, neurais, vasculares, linfáticas, entre outras – tendem a ser acentuadas pelas rotinas quotidianas (p.e., mastigar, conduzir, abrir portas, ...). Ademais, muitas assimetrias podem mesmo ser benéficas para o desenvolvimento da lateralidade e performance em inúmeras actividades.
Mesmo em desportos teoricamente mais simétricos, ou nos quais a simetria seria beneficiada (seja por questões estéticas, seja por questões de performance), raramente se obtêm os mesmos resultados e as assimetrias funcionais parecem ser incontornáveis.
Como tal, nesta Masterclass com José Afonso, docente e investigador da FADEUP, iremos explorar o estado da arte acerca da variabilidade inter- e intraindividual na resposta ao treino, bem como da assimetria enquanto factor potenciador da qualidade de movimento. Por fim, iremos analisar detalhadamente as implicações para o planeamento, nomeadamente a necessidade de uma discussão profunda acerca do paradigma da periodização do exercício.
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Gerais:
- Tornar o princípio da variabilidade inter- e intraindividual das respostas no princípio nuclear na prescrição e monitorização do exercício.
- Enquadrar a assimetria como aspecto fundacional e funcional do movimento.
- Conceptualizar o planeamento do exercício à luz destes princípios.
Específicos:
- Compreender a real importância de reconhecer a variabilidade inter- e intraindividual que existe nos humanos e nas suas respostas ao treino.
- Compreender que a assimetria constitui um aspecto basilar da natureza, desde a cosmologia ao desenvolvimento biológico, e que o exercício deverá respeitar essa assimetria.
- Analisar criticamente o paradigma vigente da periodização do exercício e reconhecer as suas limitações.
- Dominar ferramentas mais dinâmicas e adequadas de planeamento, em alternativa à periodização.
1. Variabilidade inter e intraindividual
- Variabilidade na estrutura óssea
- Variabilidade na estrutura muscular
- Variabilidade genética e epigenética
- Variabilidade na mastigação
- Variabilidade nos comportamentos oculares
- Variabilidade postural: postura enquanto conceito dinâmico e individual
- Variabilidade na marcha e na corrida
- Variabilidade no controlo motor
2. Assimetria como fundação do universo e do movimento
- Assimetria na cosmologia, física e biologia
- Assimetrias embriológicas, anatómicas, neurológicas e funcionais no quotidiano
- Acções aparentemente simétricas no desporto
- Acções assimétricas no desporto
- Assimetria e lesões: dos mitos aos factos
- Aplicações práticas com trabalho assimétrico:
Nível 0: simetria aparente com barra
Nível 1: simetria aparente com halteres
Nível 2: assimetria de planos ou amplitudes ou carga
Nível 3: assimetrias conjugadas em 2 ou mais fatores
Nível 4: assimetrias de ritmização (e.g., direita/esquerda, MI e MS, fase-antifase, tempos de repetição) e paralelos com aprendizagem da música
3. Variabilidade inter e intraindividual na resposta ao treino
- Variabilidade biomecânica e implicações para construção de exercícios de treino de força
- Variabilidade na resposta ao treino de força
- Variabilidade na resposta ao treino de potência muscular
- Variabilidade na resposta ao treino de alongamentos dinâmicos e estáticos
- Variabilidade na resposta ao treino de reabilitação cardíaca e pulmonar
- Contínuo de responsividade: dos não-responders aos hiper-responders
4. O mito da periodização e alternativas
- Conceito de periodização e seus pressupostos teóricos
- Periodização linear vs. não-linear: uma falsa dicotomia
- O que a investigação realmente mostra: a pseudociência da periodização
- Sistemas caóticos, atratores e determinismo
- Sistemas dinâmicos, auto-organização e comportamento emergente
- Cisnes Negros e Sistemas Antifrágeis
- Karl Popper e a via negativa
- Planeamentos ágeis e Event Driven Architecture
- Periodização negativa e microperiodização
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Certificado digital de frequência de formação profissional, de acordo com o decreto 35/2002, de 23 de abril.
Formação homologada pelo Instituto do Desporto e Juventude (IDP, I. P) para efeitos da renovação de cédula (PROCAFD/TEF e DT) com 1.6 Unidades de Crédito Presenciais.
Modo de pagamento
Totalidade
100%
na inscrição
Notas
Inclui coffee-break (água, chá e café) + certificado + 1.6 UC (PROCAFD/TEF e DT)
José Afonso Neves
Com um percurso académico invejável – Licenciado em Desporto e Educação Física, Mestre em Treino de Alto Rendimento Desportivo, Doutorado em Ciências do Desporto e Pós-Doutorado no âmbito do Coaching Desportivo e Periodização – foi no Voleibol que José Afonso iniciou o seu percurso. De atleta a treinador e selecionador nacional, são vários os títulos nacionais e regionais que se poderiam destacar. Actualmente, partilha o seu extenso conhecimento enquanto docente e investigador da FADEUP e formador em Cursos de Treinadores de Voleibol (Graus 1, 2 e 3).
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- Vais ser capaz de construir e monitorizar programas de treino ajustados a um determinado indivíduo, num determinado momento.
- Vais reconhecer que cada caso poderá requerer uma solução particular.
- Vais reconhecer que os sujeitos com quem trabalhamos nunca são a média, e que a própria média é, em muitos casos, um valor pouco relevante na prescrição de exercício.
- Vais reconhecer os limites de uma assimetria saudável e melhor conceptualizar o que é a “correcta” postura e o “adequado” movimento.
- Vais considerar apostar numa maior individualização do processo de prescrição e monitorização do exercício, mesmo em contextos de prática colectiva.
- Vais reconhecer o valor acrescido de planeamentos abertos, por oposição a planeamentos periodizados.
- Vais aprender a respeitar a assimetria como positiva no desenvolvimento humano e, consequentemente, do movimento.