Ao longo das últimas décadas houve um avanço considerável na compreensão da fisiologia do cérebro. Recentes progressos nas técnicas para investigar a função cerebral de modo não invasivo, como ressonância magnética, electroencefalografia, estimulação magnética transcraniana e estimulação transcraniana por corrente contínua, têm permitido novos conhecimentos na fisiopatologia de várias doenças que afectam o cérebro.

Neste contexto, a Neuromodulação (com o uso de aparelhos que mudam a actividade cerebral através da estimulação eléctrica ou magnética, invasiva ou não invasiva) podem proporcionar uma interessante alternativa às formas de tratamento para transtornos neuropsiquiátricos e reabilitação após lesões cerebrais. Especialistas em Neuromodulação devem possuir conhecimentos especializados em metodologia clínica e pesquisas recentes, além de métodos de neuromodulação. Isso envolve conhecimento do mecanismo de acção das ferramentas de neuromodulação, efeitos clínicos e treino/prática. As estimulações transcranianas são técnicas baseadas na aplicação ou indução de correntes eléctricas no sistema nervoso de forma segura e não invasiva em indivíduos conscientes.

Estas técnicas têm ganho destaque no cenário mundial por auxiliarem tanto no diagnóstico e tratamento de uma série de condições clínicas, quanto no estudo do funcionamento do sistema nervoso. De entre as técnicas de neuromodulação cerebral, três têm sido amplamente estudadas, a estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC), a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a electroestimulação periférica (EP). No curso que aqui se apresenta será abordada a Estimulação Magnética Transcraniana, que se baseia no princípio de indução electromagnética, descoberto por Faraday em 1838.Uma bobina pequena que recebe uma corrente eléctrica alternada, extremamente potente, é colocada sobre o crânio humano (KOBAYASHI e PASCUAL- LEONE, 2003).

A mudança constante da orientação da corrente eléctrica dentro da bobina é capaz de gerar um campo magnético que atravessa a pele e os ossos. Durante a aplicação da EMT, correntes eléctricas são induzidas em áreas corticais que podem despolarizar neurónios e gerar potenciais de acção que fazem a neuromodulação (KOBAYASHI e PASCUALLEONE, 2003). Por meio da observação e análise das características dos potenciais de acção induzidos pela EMT é possível avaliar diferentes aspectos da neuromodulação (KREUZER et al., 2011; PASCUAL-LEONE, 1994; ARAÚJO, 2011) com boa resolução temporal, espacial e funcional (BOGGIO et al., 2006).

Essas características tornam a EMT uma ferramenta indiscutivelmente útil para a avaliação da actividade do cérebro, fornecendo dados sobre plasticidade cerebral, representação de músculos e funções facilitadoras e inibidoras do cérebro. As técnicas de neuromodulação podem ser utilizadas de forma isolada, ou combinada com algum tipo de intervenção motora, com o intuito de maximizar os efeitos de técnicas terapêuticas subsequentes (SCHABRUN e CHIPCHASE, 2012). Estudos que associaram a estimulação cerebral com a terapia ocupacional (NAIR et al., 2011), com a terapia de contensão e indução do movimento (BOLOGNINI et al., 2011) e com o treino assistido robótico para o membro superior (HESSE et al.,2007) apresentaram bons resultados.

O mesmo aconteceu no caso do controlo da dor (SOLA et al., 2010; BECERRA et al., submetido). Iosa e colaboradores (2012) apontam a ETCC entre as sete tecnologias mais promissoras para o futuro da reabilitação de pacientes pós-AVE, e que pacientes poderão se beneficiar do seu uso através da combinação com outras intervenções convencionais, sugerindo que a associação destas tecnologias deve ser empregada.