Exercício

Treino Pliométrico: O que é e quais os seus benefícios?

A quantidade de força que uma pessoa produz é completamente determinada pelo modo em que os seus músculos são controlados a partir do cérebro.

Artigo de opinião escrito por Philipp Sousa, mestrando em Treino de Alto Rendimento Desportivo (FADEUP) e Fisiologista do Sporting Clube de Braga. É formador na Master para a Masterclass de Treino pliométrico - conceitos miogénicos, neurogénicos e artrogénicos e aplicações práticas.

Segundo Beck et al. (2011), a comunicação dos neurónios é como uma rede de circuitos eletrónicos, visto que as informações são transmitidas através de potenciais de ação. Estes impulsos elétricos decorrem quando o corpo de um sujeito se encontra em estado de repouso ou em atividade.

Os fatores miogénicos, neurogénicos e artrogénicos são abundantemente estudados no âmbito do treino pliométrico. É importante entender o encadeamento deste tipo de treino tanto em atletas com pouca ou muita experiência, sendo fundamental encará-lo com etapas que apresentam diferentes objetivos. Este deve ser abordado a partir das diferentes etapas, tais como a introdução ao treino pliométrico, o treino pliométrico nível I, o treino pliométrico nível II, o método de overload e o método de contraste “Schock method”.


O treino pliométrico está relacionado com as respostas dos mecanorrecetores aos estímulos, visto que envolve de forma ativa um alongamento das estruturas tendinosas anteriormente a uma contração concêntrica súbita. Deste modo, os benefícios deste treino estão relacionados com a melhoria da força desportiva específica devido às adaptações miogénicas, neurogénicas e artrogénicas.


Segundo Verkhoshansky (2012), os fatores miogénicos dizem respeito à utilização de energia elástica nas estruturas musculotendinosas. Os exercícios de técnica de corrida, como por exemplo o skipping médio, são apropriados para a acumulação e restituição da energia elástica devido ao reduzido tempo de contacto no solo. A intensidade da carga nestes exercícios é baixa, sendo o objetivo retirar sensibilidade aos mecanorrecetores e diminuir o tempo de contacto no solo.


O ciclo de encurtamento-estiramento é influenciado pelas propriedades viscoelásticas das estruturas músculo-tendinosas. Durante o alongamento de uma estrutura muscular em atividade existe uma absorção de energia mecânica nas estruturas tendinosas. Esta energia pode ser reutilizada no encurtamento do músculo, no entanto, isto só poderá ocorrer se a contração for realizada imediatamente após o seu alongamento.


Segundo Verkhoshansky (2012), o treino pliométrico permite uma estimulação neuromuscular que melhora a coordenação intramuscular, uma diminuição da sensibilidade das células de Renshaw, tornando-se assim possível uma maior ativação de unidades motoras ao longo de uma frequência mais elevada. Os Órgãos tendinosos de Golgi também sofrem uma diminuição de sensibilidade, inibindo assim o reflexo miotático, não bloqueando contrações musculares máximas e submáximas. Para além destas alterações fisiológicas, também se acrescenta o aumento do armazenamento de energia elástica, a contração muscular mais rápida, maior eficiência dos fusos neuromusculares, o reforço tendinoso (maior rigidez ligamentar) e dos tecidos internos musculares.


Segundo Verkhoshansky (2012), os fatores neurogénicos estão relacionados com a alteração do tempo de recrutamento de unidades motoras envolvidas no reflexo miotático. Este reflexo diz respeito ao um reflexo monosináptico que resulta numa contração súbita das estruturas musculares envolventes imediatamente após a estimulação dos fusos neuromusculares. Após o estiramento de um músculo, os neurónios aferentes dos fusos neuromusculares respondem á alteração do comprimento muscular e transmitem esta atividade à corda espinal em potenciais de ação. Segundo Beck et al. (2011), na respetiva corda espinal encontra-se a célula de Renshaw que é inibitória, na medida em que influencia a frequência do motoneurónio durante a fadiga muscular. É também fundamental entender a função dos Órgãos tendinosos de Golgi que, segundo Verkhoshansky (2012), são sensíveis à variação de tensão muscular, na medida em que para uma tensão elevada é induzida uma inibição da mesma contração.


Pode concluir-se que os fusos neuromusculares e os Órgãos tendinosos de Golgi apresentam uma função de contraste, visto que os fusos neuromusculares são excitatórios e os Órgãos tendinosos de Golgi são inibitórios. O equilíbrio entre a excitabilidade e a inibição permitem uma melhor performance, visto que implica uma melhor funcionalidade do Sistema Nervoso Central.


Os fatores neurogénicos estão também associados a influências espinhais e supraespinais. As influências espinhais estão associadas à potenciação do ciclo de encurtamento-estiramento através da estimulação dos propriocetores anteriormente mencionados. Segundo Grabiner & Owings (2002), as influências supraespinais, estão associadas a respostas do Sistema Nervoso Central, através da atividade neural, que envolvem cargas mais elevadas comparativamente aos fatores miogénicos. A principal função dos exercícios pliométricos é estimular as características neuromusculares, na medida que em exercícios distintos a contribuição dos fatores miogénicos e neurogénicos podem ser diferentes. No entanto, segundo Enoka (1996), as contrações excêntricas requerem uma estratégia de ativação diferente da parte do Sistema Nervoso, na medida em que existe uma modulação relativa da excitabilidade dos motoneurónios que inervam a fibra muscular. Também Fang et al. (2001), mencionam que através de uma avaliação eletroencefálica existe uma diferença de ativação cortical entre a atividade muscular concêntrica e excêntrica, visto que o cérebro interpreta a componente excêntrica como um movimento complexo. O alongamento muscular característico deste tipo de contração resulta numa atividade cortical induzida adicional e um maior planeamento cortical. Para além destas alterações, também os neurónios antecipam a sua atividade, o que emite a lógica da funcionalidade dos fatores artrogénicos.


As adaptações artrogénicas do exercício dizem respeito à resposta dos mecanorrecetores/ciclo encurtamento-estiramento versus a comunicação das sinapses dos motoneurónios/sistema nervoso central, visto que o treino aparenta melhorar essa comunicação. No entanto, saltos de baixa intensidade/carga, tais como saltos à corda de reduzida altitude, são altamente desgastantes para a articulação devido à parcial inibição destes fatores artogénicos. Estes fatores, segundo Agaard & Mayer (2007) apresentam um mecanismo regulatório que limita o recrutamento e a capacidade de ativação de unidades motoras ao longo de contrações excêntricas voluntárias maximais. Por fim, o treino pliométrico apresenta resultados positivos no que diz respeito à velocidade do atleta, visto que a quantidade de força que uma pessoa produz é completamente determinada pelo modo em que os seus músculos são controlados a partir do cérebro.


Segundo Weyand et al. (2000), deslocamentos rápidos são atingidos com maiores forças de aplicação no solo efetuados em cada passada, ao contrário de movimentos mais rápidos dos membros inferiores. Esta hipótese indica que uma maior força de aplicação no solo tem implicações mais significativas no que diz respeito à velocidade máxima que o atleta atinge. No entanto, uma maior amplitude entre passadas também promove uma maior propulsão. Para isto ocorrer de forma eficaz é necessário entender os princípios neuromusculares - respetivamente a coativação agonista-antagonista em novas ações e ações balísticas - na necessidade de estabilidade articular para que, deste modo, seja possível aumentar a velocidade de execução. Por outro lado, o princípio neuromuscular da boa ativação recíproca agonista-antagonista é importante em movimentos poliarticulares automatizados e na consolidação de aprendizagem para a execução para uma tarefa nova.


Desta forma, a progressão do treino deve ser realizada de um contexto fechado (exercícios com início e fim previsíveis) para um contexto aberto (exercícios com início e fim menos previsíveis). Este princípio do treino diz respeito à progressão da coativação à inibição, ou seja, à estabilização da tarefa nova, podendo assim ser realizada com maior velocidade. Ao longo da Masterclass de “Treino Pliométrico” serão abordadas as etapas que dizem respeito a ambos os contextos de aprendizagem e consolidação.


Referências Bibliográficas


1. Beck, E., Scheeren, E., Neto, G., Button, V., Neves, E., e Nohama, P. (2011). Potencal de ação: do estímulo à adaptação neural.

2. Verkhoshansky, N. (2012). Sckock Method and Plyometrics: Updates and indepth examination.

3. Grabiner, M., e Owings, T. (2002). EMG diferences between concentric and eccentric maximum voluntary contractions are evidente prior to movement onset. Volume 145, p. 505-511.

4. Enoka, M. (1996). Eccentric contractions require unique activation strategies by the nervous system. Journal of Applied Phisiology, p. 2339-2346.

5. Fang, Y., Siemionow, V., Sahgal, V., Xiong, F., e Yue, G. (2001). Greater Movement-Related Cortical Potential During Human Eccentric Versus Concentric Muscle Contractions. Journal of Nuerophysiology, volume 86, p. 1764-1772.

6. Aagaard, P., e Mayer, F. (2007). Neuronal adaptations to strength training. German Journal for Sports Medicine, p. 50-53.

7. Weyand. P., Sternlight. D., Bellizzi. M., & Wrght. S. (2000). Faster top running speeds are achieved with greater ground forces not more rapid leg movements. Journal of Apllied Physiology, p. 1991-1999.

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