Saúde

Maioria dos profissionais de saúde não sabe abordar a dor

Já é hora de o paciente para de sofrer as consequências de os profissionais estarem desatualizados e serem ignorantes na área da DOR.

Artigo de opinião escrito por Tomas Bonino, fisioterapeuta, diretor da ESITEF e formador da Master Science Lab


"Se conseguirmos que as pessoas entendam que a dor é um mecanismo de proteção e não um sinal de dano no tecido, o jogo muda!" - L. Moesley


Ao dia de hoje, apesar de toda a literatura disponível há pelo menos 20 anos, a grande maioria dos profissionais de saúde aborda a dor apenas do ponto de vista estrutural e mecanicista. Ou seja, como se a dor sempre e somente viesse ou indicasse um dano real em alguma estrutura ou tecido.


Trabalhamos todos os dias com pessoas que sofrem de dores e, na grande maioria das clínicas do mundo, essa perceção ainda é a mais comum e a mais veiculada. Isto, além de grave e de ser um sinal preocupante de desatualização profissional, faz também com que todos os nocebos continuem a ser favorecidos, o que aumenta as chances de perpetuar a dor, gerando desinformação, medo, hipervigilância, cinesiofobia, hiperproteção...


Peço desculpa pela minha franqueza, mas:

JÁ É HORA de o paciente PARAR DE SOFRER as consequências dos profissionais estarem desatualizados e serem ignorantes na área da DOR. 


No mínimo, todos devemos saber que:


- Existem vários tipos de dor (nociplástica, nociceptiva, neuropática e mista) e as características de cada uma;


- A "dor crónica" mudou há anos para "persistente" ou "duradoura" (e não apenas por uma questão semântica) e que sua abordagem efetiva está MUITO longe de visar "melhorar" alguma estrutura. Pelo contrário, as estratégias de dessensibilização são utilizadas pela exposição progressiva orientada, sobretudo, para o sistema nervoso, gerindo constrangimentos do contexto, da tarefa e do indivíduo;


- “O tecido «per se» não dói. A dor é uma das muitas respostas que nosso corpo tem (comportamental, motora, sistêmico-multissistêmica...) (A. Pinteño);


- Está a chegar o modelo inativo da dor;


- Somos Sistemas Dinâmicos Complexos e tudo o que isso significa em termos de dor;


- O efeito nocebo da má comunicação e dos "diagnósticos" baseados em achados radiológicos.


Em suma e, na minha opinião, pelo bem dos nossos utentes, o profissional não pode deixar passar um dia mais sem alcançar um nível mínimo de conhecimento atualizado sobre estes temas. 


Referências Bibliográficas:


- “ABC of pain” Lesley A. Colvin, Marie Fallon. BMJ Books,( 2012)


- “Chronic nociplastic pain affecting the musculoskeletal system: Clinical criteria and grading system”. Pain. (2021)


- “Nociplastic Pain Criteria or Recognition of Central Sensitization? Pain Phenotyping in the Past, Present and Future ” . J. Clin. Med. (2021)


- “Explicando el dolor”. Butler, David S./ Moseley, G. Lorimer ( 1°ed 2003 / 2° ed 2016) (En castellano)


- “Aches and Pains” + “Graded Exposure” + “The Nerve Root” . Louis Gifford (2014)


- “An enactive approach to pain: beyond the biopsychosocial model”. Peter Stilwell1 & Katherine Harman2 (2019)


- “Neurociencia y Dolor. Cambios Neuroplásticos y Rehabilitación en Dolor Crónico” Rodríguez-Domínguez, Á. ( 2021) (en Castellano)


- "Abordaje del dolor en fisiosterapia”. C. Tornero. (2022) ( En castellano)


- “Recovery strategies. Pain Guidebook”. Greg Lehman

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