Saúde

Postura em Tempos de Covid

Os erros sistemáticos de postura podem produzir sintomas sérios

A pandemia que temos vindo a atravessar tem modificado os nossos hábitos posturais.


Muitos de nós passamos a recorrer mais à posição de sentado e a fazer maior uso do computador.


As cadeiras que a maioria das pessoas utiliza são cadeiras com uma altura standard de cerca de 44 cm com assento ligeiramente inclinado para trás (cerca de 3 a 4 graus e com o encosto cerca de 10 graus também para trás.


Tudo se passa como se a posição ideal para estar sentado fosse descarregar uma parte do nosso peso para as costas da cadeira, fazer apoio na metade anterior dos pés e rodar os membros inferiores para fora.


Em relação à cabeça tudo se passa como se achássemos normal fazer incidir, por tempo prolongado, sobre os músculos do pescoço uma cabeça que pode pesar de 5 a 7 kg que com o efeito de alavanca pode significar um esforço de cerca de 18 kg sobre os tendões inferiores dos músculos cervicais.


Depois queixamo-nos de fadiga e dores musculares como se isso não tivesse nada a ver com os erros posturais que adoptamos, muitas vezes de forma inconsciente no nosso dia a dia.


Em relação ao adulto a cadeira ideal para cerca de 90 por cento da população normal deve ter entre 30 e 40 cm dependendo essa medida exata do comprimento da perna de cada um.


Para uma posição correta, os joelhos devem estar cerca de 3 a 4 cm mais altos do que a coxa e os pés colocados em posição de paralelismo.


Os pés têm a função de equilibrar o corpo e não os podemos eliminar quer total quer parcialmente sem pagarmos uma factura no nosso bem estar.


Quando temos os pés bem apoiados eles enviam informação proprioceptiva ao cérebro que equilibra o tónus dos restantes músculos do corpo, incluindo os músculos que fazem movimentar os nossos olhos.


É evidente que não é prático fabricar uma cadeira para a altura de cada utilizador mas é perfeitamente possível que cada pessoa que tenha de estar muito tempo sentada, utilize um apoio para os pés com a altura indicada para cumprir as regras que em cima enunciamos.


Henrique Martins da Cunha o médico fisiatra que primeiro descreveu a nível mundial a Síndrome de Deficiência Postural aconselhava a título provisório a colocar como apoio para os pés, revistas e livros que já não tivessem utilidade.


Os erros sistemáticos de postura podem produzir sintomas sérios que variam de individuo para individuo como dores musculares em qualquer parte do corpo e mesmo desencadear uma dor ciática por contratura do músculo piriforme e dores na zona da coluna, braços, pernas, peito e mesmo pés.


Pode dar desequilíbrios como sensação de se estar em cima de um barco ou até mesmo vertigens insuportáveis que não permitem boa qualidade de vida. Algumas vezes as mãos apresentam-se frias mas transpiradas, existe fadiga e certos movimentos articulares limitados ou pesados como a rotação da cabeça e a elevação dos braços. Muitas pessoas têm dificuldade em chegar ao cimo dos armários ou olhar para o tecto, convencidas que é da idade ou do reumatismo. Outras pessoas tropeçam em mesas e em ombreiras de porta ou caem e fazem entorses com frequência e convencem se que são distraídas ou desajeitadas.


Outras ainda ficam furiosas porque mordem a língua ou a bochecha e não percebem como isso é possível…


As cadeiras de altura regulável parecem ser o ideal mas é pura ilusão. Seria boa solução se a cadeira fosse utilizada isoladamente. Mas a cadeira está associada no seu uso a uma mesa e ao acertarmos a cadeira estamos a desregular a mesa e alterar a postura da cabeça.


Se descermos a cadeira para uma pessoa de baixa estatura e a colocarmos ao computador os seus olhos ficam abaixo da primeira linha do computador e isso obriga a uma contratura permanente dos músculos posteriores do pescoço. O movimento dos nossos olhos é mais limitado no olhar para cima pelo que vamos ter de mobilizar os músculos do pescoço. O problema não reside em usar essa posição alguns minutos, o problema está em utilizar essa posição por muito tempo. Esta situação afeta não só os músculos cervicais como todo o sistema proprioceptivo com as consequências que acima foram recebidas.


Nas crianças a má postura pode induzir dislexia e dificuldades de aprendizagem. Há crianças que são inteligentes, que se esforçam por aprender, que têm bons professores e cometem erros escolares inaceitáveis. Muitas dessas crianças sofrem de Síndrome de Deficiência Postural e uma das prescrições consiste em explicar como devem estar sentadas.


Vejamos agora o trabalho em frente a um ecrã de computador que foi intensificado por causa desta pandemia.


Quando aproximamos um objeto dos dois olhos eles executam naturalmente um movimento para dentro em sentidos opostos. Chama-se a isto reflexo de convergência, esta é uma exceção à dinâmica dos movimentos oculares pois a regra consiste em os dois olhos moverem se no mesmo sentido.


Porém se em vez de um objecto aproximarmos uma luz, essa convergência faz se com mais dificuldade e fadiga visual. O contraste do ecrã de computador é um misto entre luz e objeto, ou seja, corresponde a um estímulo fraco de convergência, se associarmos a isso a má postura que também vai agravar a convergência ocular por via proprioceptiva, as pessoas podem queixar-se de fadiga visual e pensar erradamente que são as lentes de visão que já não estão bem.


Por tudo isto é de prever que neste período de sedentarismo forçado em que vivemos haja um maior número de Síndromes de Deficiência Postural com o seu cortejo de sintomas específicos como dores musculares, desequilíbrios e fadiga inexplicável.


Quanto às crianças é provável o aumento de déficits de concentração e dificuldades escolares que serão mais facilmente detetados quando voltarem às aulas presenciais.

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