Exercício

O regresso ao chão para podermos sair dele

Talvez a natureza já nos tenha oferecido o “segredo” da nossa longevidade de movimento, mas será que estamos a fazer uso dele?

Artigo escrito por Joel Fernandes, fisioterapeuta e formador da Master para o curso de Movement Beyond Fifty (MBF).

Sermos capazes de nos deitarmos e levantarmos do chão (DLC) parece não ser nada de especial, mas agora imagine-se com oitenta anos e conseguir realizar esta tarefa com a maior das naturalidades.


O que é que isso diria sobre as suas competências de movimento?


Bem, teria de ter níveis aceitáveis de mobilidade, estabilidade, coordenação, equilíbrio e força para conseguir realizar tal “proeza” sem grande esforço e em segurança.


O DLC é daquelas coisas que vamos menosprezando ao longo da nossa vida adulta, «andar no chão é coisa de crianças» dizemos nós. E de facto temos razão, as crianças não perdem uma oportunidade para interagir de perto com o chão, talvez seja por isso que o agachamento não representa qualquer desafio para elas, é apenas um meio para se aproximarem do chão e explorar o mundo que as rodeia.


Este distanciamento do chão, a longo prazo, vai ter efeitos nocivos para o nosso movimento entre eles a incapacidade de nos levantarmos do chão. Segundo BERGLAND e LAAKE (2005) a incapacidade de nos levantarmos do chão está associada com idade avançada, morbidade elevada e baixa capacidade funcional.


Vários estudos referem também que a incapacidade de nos levantarmos do chão pode dar origem a longos períodos no chão após uma queda resultando em situações de desidratação, úlceras de pressão, lesões musculares e até falência renal.


Embora este seja um problema real, um estudo realizado por SIMPSON e SALKIN (1993) refere que apenas 11% dos fisioterapeutas ensinava os adultos mais velhos a se levantarem do chão.


Além disso a grande maioria da pesquisa existente sobre este tema é feita com adultos mais velhos (≥ 65 anos) onde as limitações já estão instaladas. Seria interessante olhar para este problema do ponto de vista preventivo, ou seja, começar a trabalhar esta interação com o chão em adultos mais jovens onde o declínio de movimento ainda não é tão acentuado. Até que ponto é que praticar o deitar no chão, o movimentar no chão (rolar, rastejar, gatinhar) e o levantar do chão em idades mais precoces não iria diminuir a incidência de adultos mais velhos com incapacidade de se levantar do chão? E que efeito teria esse trabalho na manutenção ou melhoramento de padrões básicos de movimento como um agachamento, um lunge, ou uma extensão de braços?


Em bebés, iniciámos a nossa jornada de movimento a movimentarmo-nos no chão e a levantarmo-nos dele. Se foi através deste processo que nós adquirimos as bases do nosso movimento porque não voltarmos a ele regularmente como forma de mantermos essas mesmas bases?


Talvez a natureza já nos tenha oferecido o “segredo” da nossa longevidade de movimento, é uma questão de fazermos uso dele.


Referências bibliográficas:


1. Bergland A, Laake K. Concurrent and predictive validity of “getting up from lying on the floor”. Aging Clin Exp Res 2005;17:181-5.

2. Fleming J, Brayne C, CC75C collaborative. Falls in advanced old age: recalled falls and prospective follow-up of over-90-year-olds in the CC75C study. BMC Geriatrics 2008;8:6.

3. Simpson JM, Sharon S. Are elderly people at risk of falling taught how to get up again? Age Ageing 1993; 22: 294-6.

4. Tinetti ME, Liu WL, Claus EB. Predictors and prognosis of inability to get up after falls among elderly persons. JAMA 1993; 269: 65-70.

5. Vellas B, Cayla F, Bocquet H, et al. Prospective study of restriction of activity in old people after falls. Age Ageing 1987;16:189-93.

6. Wild D, Nayak US, Isaacs B. How dangerous are falls in old people at home? BMJ 1981;282:266-8.

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