Saúde

Marta Sainz: Especialista em Fisioterapia da Mulher

O Fisioterapeuta deve ter uma formação intensa para poder adaptar-se ao tratamento de cada grávida, já que nenhuma gravidez é igual à outra, nem um parto é igual ao outro.

Marta Sainz é fisioterapeuta especialista em pelviperineologia e reabilitação pós-cirúrgica, com mestrado em género e saúde e doutoramento em síndrome da dor miofascial.


Com centenas de horas de docência e investigação em pelviperineologia, Marta Sainz é uma das especialistas mais conceituadas em fisioterapia da mulher, e por isso mesmo, convidamo-la a dar resposta a algumas questões sobre o estado atual da fisioterapia na saúde da mulher.



Sabemos que atua numa área muito específica da saúde da mulher que é a fertilidade. Em que medida as técnicas que aplica, contribuem neste sentido?


No meu conceito de GDP (Gestão Dinâmica de Pressão), e nas técnicas de regulação da tensegridade, neste caso através de TRPS (Tensegrity regulation at pelvis) do útero, é a abordagem que regula o ótimo trofismo uterino e ovárico, a sua flexibilidade para a nidação e para a gravidez, assim como reduzir as possibilidades de aborto por excesso de tensão uterina. A mulher obtém, ao longo das sessões, a tensegridade necessária para um ótimo funcionamento ovárico e uterino. Com isto, em primeiro lugar, melhora a biomecânica ovárica-uterina, em segundo lugar a ótima funcionalidade tanto para a fecundação como a gravidez e parto com a dilatação uterina sem restrições.


Como é que uma Fisioterapeuta pode tratar, eventualmente em sinergia com um médico que se responsabiliza pela parte bioquímica/ perfil hormonal, um síndrome de ovários poliquisticos, endometriose, trompas obstruídas, útero em retroversão?


O Fisioterapeuta com as TRP’s do útero assim como o resto dos TRP’s da Pélvis, otimiza a biomecânica e funcionalidade potenciando os tratamentos médico-farmacológicos prescritos à paciente para regulação hormonal ou da patologia. Então, não são ferramentas contraproducentes. Efetivamente o tratamento médico-farmacológico de regulação hormonal é paralelo e complementar ao tratamento das TRP’s centrais e ráquis que normalizam o equilíbrio neurovegetativo, ótima biomecânica pélvica, uterina e ovárica que realizamos com as TRP’s para que o tratamento farmacológica possa ser eficaz.


Como explica aos seus pacientes e a outros profissionais de saúde que não conhecem o sistema miofascial, que sistema é este e como entra em disfunção?


O Sistema Miofascial é uma continuidade de tecido conectivo que possibilita a biomecânica do ser humano. Quando temos maus hábitos posturais ou de movimento, às vezes induzidos por hábitos tensionais psico-emocionais, criam-se compensações, limitações e ancoragens para superar o sobre-uso de algumas estruturas, reduz a biomecânica e com o tempo e com a cronicidade da limitação, estende-se num mapa de intensidade, originando síndromes tensionais da estrutura implicada. Na pélvis, por exemplo, síndrome vesical, anorretal, prostático, entre outros…


E como se trata?


O tratamento implica contemplar todos os fatores disfuncionais implicados, como se de um puzzle se tratasse, e tratar peça-a-peça e no final, montar este puzzle de forma eficaz e sem recaída da patologia no futuro.


Porque é que é este tipo de tratamento, sobretudo quando se recorre às agulhas de punção, é doloroso? Doloroso mas eficaz! Qual o nível de evidência?


Segundo o paciente e a disfunção que tem é mais eficaz e menos doloroso o tratamento manual e nos outros é mais eficaz e menos doloroso o tratamento com punção seca, ao ser mais analítico, podemos chegar onde não se chega com a mão e tratando níveis diferentes em cada sessão, dá mais eficácia e rapidez, e muitas vezes os pacientes vêm à procura desta intervenção porque já tentaram outros tratamentos, sobretudo abordagem manual que lhes causou mais dor ou foi mais agressivo. O tratamento com punção seca desenvolvido por Travell e Simos e com grande base bibliográfica desenvolvida por Orlando Mayoral é o que costumamos aplicar em disfunções pélvicas.


Sabemos que foi pioneira no uso da radiofrequência intra-cavitaria, pode falar-nos um pouco desse processo - já que desenvolveu e lançou no mercado a sonda MJS - e qual a importância desta corrente na prática clínica?


A sonda MJS é capacitiva precisamente para não acarretar risco de queimadura, e para poder combinar a sua utilização com a agulha de punção, centralizando a sua aplicação de radiofrequência mais analítica. O material de que é feita a sonda é de máxima condutibilidade, somando ainda um controlo e monitorização da temperatura em tempo real, exigido pela segurança de poder trabalhar em cada disfunção com uma temperatura adequada.


Em que consiste o tratamento de reabilitação uroginecológica na criança?


É uma abordagem conservadora que gera três pontos fortes essencialmente ao urologista pediátrico: reduz-se a intervenção farmacológica e cirúrgica necessária, melhora a capacidade de auto-conhecimento e auto-controlo da criança e reduz o tempo e número de exames se forem necessários.


Que estratégias utiliza e em que casos está indicado?


Indicado em crianças com disfunção uretro-vesical ou ano-retal assim como patologias anatómicas ou congénitas.


Disfunção sexual masculina, à luz da evidência científica, como pode o Fisioterapeuta desempenhar um papel de relevo nesta área?


A função eréctil e ejaculatória tem que basear-se num ótimo equilíbrio do sistema nervoso autónomo, sistema vascular, neuromotriz e miofascial. É aqui que entra o Fisioterapeuta como parte insubstituível da equipa multidisciplinar que estabelece toda esta funcionalidade, como parte vinculante ao tratamento psicológico ou médico-farmacológico.


Na sua opinião, e porque sabemos que já acompanhou grávidas em trabalho de parto e pós-parto, porque não está o Fisioterapeuta integrado numa equipa hospitalar?


O Fisioterapeuta é o profissional que tem como função realizar terapia física no ser humano, por isso somos fisioterapeutas obstétricos (em PT não há sequer esta designação, por isso talvez seja melhor dizer fisioterapeuta em uroginecologia) encarregues pela terapia física da gravida, durante toda a gravidez e parto, otimizando a biomecânica pélvica para que cada processo seja possível, ágil e sem sequelas.


A nossa profissão tem potencial para desempenhar essa função?


O Fisioterapeuta deve ter uma formação intensa para poder adaptar-se ao tratamento de cada grávida, já que nenhuma gravidez é igual à outra, nem um parto é igual ao outro, adaptando toda a nossa função de originar uma ótima biomecânica pélvica à função do médico obstetra e enfermeira parteira, com os cuidados maternos e fetais e biomecânica fetal intra parto.


Pode falar um pouco sobre o papel da alimentação e da suplementação em Reabilitação Uroginecológica, sobretudo na promoção de qualidade da mucosa vaginal e pavimento pélvico?


Sisse Hipocatres “que a tua medicina seja o teu alimento, e o teu alimento a tua medicina”. Muitos dos nossos pacientes têm infeções urinárias, irritações da mucosa vaginal, infeções vaginais e com a aplicação de um óvulo ou antibiótico matam “os bichinhos responsáveis” mantendo a origem da infeção que são dietas altamente inflamatórias ou irritantes, ou excessivas por causa da ansiedade e irritação psicológica ou stress que persistem, gerando com isto constantes infeções ou inflamações recidivantes que levam a cada vez mais disfunção, já não só na mucosa como sistémica no paciente. Por isso um ótimo resultado de tratamento é tratar a mucosa desde onde ela começa, que é na boca, e tratar diafragma pélvico (pavimento pélvico) em relação com o resto mediante sinergia diafragmática sem que a hiperpressão entre eles finalmente se instaure no pavimento pélvico.

Quais são os exercícios domiciliares que com frequência recomenda às suas pacientes grávidas e porquê?


Os exercícios domiciliares som o que no meu conceito de trabalho chamo de técnicas de TRPS, pessoais e em pares, domiciliares, manuais e com ferramentas concretas de biofeedback que aumente a sua propriocepção ou facilite o seu tratamento de estiramento ou sinergia segundo seja a execução recomendada. O objetivo do fisioterapeuta obstétrico é facilitar a função obstétrica do canal de parto da pélvis feminina, adaptando ao seu tipo de pélvis e tipo de encaixe fetal, ampliando a biomecânica pélvica por cada plano de descida fetal. Assim como reduzir todos os pontos de conflito que impeçam a sua cómoda colocação, encaixamento e descida na pélvis sem que se desenvolvam sequelas pélvicas em nenhum plano, mas isso não se consegue apenas no dia do parto… nem nas últimas semanas! O ideal para isto é que o tratamento de fisioterapia na gravidez com TRP, GDP1 e GDP2, durante o segundo e terceiro trimestre oferece uma sustentação miofascial equilibrada, tensegridade, que permitirá o movimento fetal dentro da pélvis materna sem que esta biomecânica afete negativamente a gravida e o desenvolvimento de um parto fisiológico sem sequelas.

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