Nos últimos anos tem-se privilegiado o foco atencional na aprendizagem de uma tarefa motora.
Foco atencional foi definido por alguns autores como “a habilidade ou capacidade de controlar a concentração não só com distracções externas, bem como ser capaz de concentrar nos comandos específicos para a tarefa”.
Numa definição mais específica para a aprendizagem motora, outro autor, definiu-o “de um ponto de vista da aprendizagem motora, o foco atencional é definido como o esforço consciente de um indivíduo para concentrar a sua atenção através de pensamentos explícitos, num esforço para executar uma habilidade motora com um desempenho superior”.
Simplificando, o foco atencional é a capacidade de nos concentrarmos sem qualquer tipo de distracção e ouvindo/seguindo todas as instruções para realizar uma tarefa com sucesso.
Na tentativa de melhorar o foco atencional e automatizar a capacidade de integrar ou melhorar a aquisição de novas tarefas motoras, tem-se estudado se é o foco interno ou o foco externo a melhor estratégia para melhorar a performance.
Segundo a ciência não há dúvidas: o foco externo é muito mais efectivo em termos de eficácia, eficiência e velocidade de aprendizagem.
Mas o que é realmente o foco interno e externo?
Foco interno é quando nos focamos num segmento corporal para completar uma tarefa. O foco externo é quando nos focamos na efectividade do movimento.
Descrevamos, sucintamente, alguns estudos feitos para melhor compreensão deste conceito, lançando, por fim, um desafio:
• Um estudo com doentes parkinsónicos dividiu 3 grupos - um com informações de foco interno, outro de foco externo e o terceiro sem qualquer foco - para avaliar o equilíbrio. Em todos os grupos a baseline era “manterem-se de pé o mais imóvel possível”.
Os comandos utilizados foram:
- Comando foco interno: “manter de pé o mais imóvel possível, e concentrem-se em manter a mesma quantidade de força em cada pé"
- Comando foco externo: “manter de pé o mais imóvel possível e concentrem-se em manter a mesma quantidade de força em cada rectângulo”
O resultado final foi que os indivíduos que se focaram externamente tiveram melhores resultados que o grupo sem foco e foco interno. Curiosamente, o grupo em que não houve foco apresentou melhores resultados do que o grupo do foco interno.
• Outro estudo focou-se na economia de corredores através do foco interno e externo.
O grupo do foco interno tinha como objetivo concentrar-se em partes corporais, como os membros inferiores e respiração, através de indicações transmitidas de 15 em 15 segundos a partir da gravação de um CD:
- “concentre-se no movimento da corrida”
- “preste atenção aos passos e ao movimento das pernas”
- “concentre-se na respiração”
- “preste atenção ao inspirar e expirar”
Já o grupo do foco externo visualizava um vídeo de uma corrida ao ar livre, a 12Km/h, da perspectiva do corredor.
- “Foque-se no vídeo”
- “Preste atenção à estrada”
O resultado final demonstrou que a economia da corrida foi melhorada no grupo do foco externo.
Como já referimos o foco externo apresenta mais benefício para melhorar:
• a eficácia (terminar a tarefa) como no estudo dos parkinsónicos;
• a eficiência (terminar a tarefa, gastando o mínimo de recursos possível) como no estudo dos corredores;
• a velocidade de aprendizagem é mais rápida;
• o movimento é mais automático e não tão consciente.
Para uma melhor compreensão dos últimos dois pontos, deixo um desafio:
Primeiro, analise as instruções com foco interno. Não veja as instruções do foco externo, sem primeiro completar a tarefa do foco interno.
Para que possa comparar as duas abordagens deverá contabilizar o tempo de interpretação e execução para cada uma, individualmente. Por fim, compare os resultados.
Foco Interno:
1. De pé levante o braço a direito, em frente, até aos 45º e dobre o cotovelo entre 100 a 110º.
2. Sem tirar os pés do chão, dobre os joelhos a 90º ao mesmo tempo que leva o rabo para trás para não cair.
Foco Externo:
1. Leve a mão direita à boca
2. Sente-se na cadeira
Em qual dos focos acha que foi mais rápido?
Em qual o movimento foi mais automático?
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Artigo escrito pelo fisioterapeuta Gustavo Figueiredo. Licenciado em Fisioterapia pela Universidade Fernando Pessoa e mestre em Fisioterapia no Desporto pela Escola Superior de Tecnologia e Saúde do Porto, exerce prática na clínica FISIOGlobal - Saúde Integral, FisioNorte, Castelo da Maia Ginásio Clube e Clínica Sua Saúde.