Artigo científico publicado na Revista de Medicina Desportiva informa, 2013, 4
Introdução
A importância dos exames laboratoriais em medicina desportiva é na, maior parte dos casos, a mesma que a verificada na prevenção e diagnóstico noutras especialidades, mas os atletas de elite têm particularidades decorrentes do desgaste físico e mental adicional. Os atletas muito jovens ou com idade superior a 35 anos também requerem outros exames, assim como as atletas femininas por razões hormonais. A fadiga é também motivo para solicitar a realização de exames analíticos, sendo os atletas frequentemente acompanhados nesta preocupação pelos treinadores e familiares, na expetativa de encontrar a explicação para o seu problema.
Atletas de Elite
Os atletas de alta competição e os profissionais seniores dos clubes devem ser avaliados pelo menos duas vezes por ano, no princípio e no fim da época desportiva, e sempre que apresentem alterações clínicas. O Comité Olímpico Internacional sugeriu em 2009 uma lista de exames para avaliações periódicas (Quadro 1, artigo original) de atletas de elite. Nos desportos de contacto recomendamos mais exames (Quadro 2, artigo original), os quais, sendo mais dispendiosos, obrigam a boa sustentação clínica. Na perspetiva da investigação de uma causa de fadiga poderão ser realizadas outros exames analíticos (enzimas referentes ao desgaste muscular, testosterona total e cortisol), as quais são sempre de difícil interpretação. Para o sexo feminino poderão ser de algum interesse as determinações hormonais que caraterizam o ciclo hormonal (Quadro 3, artigo original), mas as alterações encontradas devem ser integradas na anamnese e na observação clínica.
Semiologia Laboratorial
A escolha dos exames está sempre dependente de cada situação clínica, integrada num contexto desportivo.
Hemograma
A contagem dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas deve ser integrada com o conhecimento das cargas de treino em curso. No caso dos eritrócitos, o seu número diminui de modo reversível com os treinos intensos de longa duração devido ao desequilíbrio entre os fatores de crescimento hematopoiético (stem cells, eritropoietina, interleucinas, etc.) e os fatores frenadores, como o TGF-b (transforming growth factor b) e o TNF (tumor necrosis factor). A hemoglobina permite fazer o diagnóstico de anemia quando apresenta concentrações inferiores a 12g/dL no sexo feminino e a 13g/dL no sexo masculino. As causas mais comuns são a hemólise aumentada, a carência de ferro e, menos frequente, os défices em ácido fólico e vitamina B12. As situações inflamatórias e o overtraining são também causa de diminuição da concentração da hemoglobina. As anemias por alteração na estrutura da hemoglobina (hemoglobinopatias) têm prevalência elevada na população portuguesa e devem consideradas e estudadas no contexto clínico. O hematócrito superior a 52% na mulher e a 55% no homem deve ser investigado, já que pode indicar poliglobulia por hemoconcentração, cujas causas podem ser decorrentes de estágio em altitude ou após administração de eritropoietina.
O volume globular médio pode indicar hemoglobinopatia, se existir microcitose, como na talassémia ou na deficiência de ferro. O seu aumento pode sugerir carência de vitamina B12 ou de ácido fólico. O doseamento dos reticulócitos, como fator de reatividade medular, interessa no contexto da dopagem e de algumas anemias. Em relação aos leucócitos importa referir as leucopenias, com ou sem linfocitose, associadas a desportos com forte componente anaeróbio, enquanto as leucocitoses com neutrofilia podem ocorrer nos esforços de longa duração por migração dos leucócitos marginais e também pelo aumento das hormonas de stress (catecolaminas e citocinas). As alterações leucocitárias podem corresponder a situação patológica, a infeção ou a inflamação. A eosinofilia pode sugerir um estado de reatividade alérgica ou à existência de uma parasitose. As plaquetas aumentam em número após o exercício físico de média e longa duração. No caso da trombocitopenia, além do eventual desequilíbrio entre a produção medular e a libertação de citocinas inflamatórias, deve ser considerada a patologia infeciosa ou imunológica.
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