Quando uma adolescente/mulher utiliza a pílula ou outra qualquer contracepção hormonal não menstrua porque o seu ciclo menstrual está latente, adormecido, inativo. A menstruação resulta de um ciclo onde há ovulação.
Assim, a toma da pílula suprime o ciclo e a gravidez não ocorre, porque não há ovulação.
Desta forma, o sangue expelido mensalmente é, em bom rigor, uma hemorragia de privação: privação hormonal é a designação correcta para este tipo de sangramento.
A dor menstrual, cientificamente denominada por dismenorreia, faz parte das queixas ginecológicas mais frequentes em faixas etárias jovens, acometendo cerca de 50 a 70% das mulheres. Talvez pela elevada prevalência assuma-se como normal. Não obstante, cerca de 10% das mulheres, nos dias em que menstrua sente necessidade de alterar a sua rotina devido à dor incapacitante que sente.
Ter dor nunca é normal.
Tanto a menstruação quanto a ovulação são processos inflamatórios fisiológicos pelo que normal pode ser sentir-se uma ligeira moedeira/desconforto. Dor incapacitante, não.
Com a contracepção hormonal, o revestimento do endométrio - células que descamam - é drasticamente menor e, por isso, embora amenize a dor sentida, não resolve a questão desde a sua origem pelo que é altamente provável que quando a mulher parar de recorrer à contracepção se sinta igual ou pior, porque foi silenciado um sintoma e não a causa.
Assim, no caso das mulheres com dismenorreia é importante estudar a sua saúde global, através de três parâmetros essenciais:
1. Estilo de vida
2. (Eventualmente) Análise bioquímica de perfil hormonal. Por exemplo, o défice de alguns minerais e vitaminas pode contribuir para este quadro.
3. Avaliação com fisioterapeuta a fim de descartar eventuais causas mecânicas que contribuam para a dor como, por exemplo, a posição em que o útero se encontra ou situações como a doença inflamatória pélvica.
"Pode parecer que sou contra a pílula, mas não. Sou a favor da informação. Porque se formos pessoas informadas, temos a capacidade de tomar melhores decisões sobre o nosso corpo e sobre a nossa saúde."
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Artigo de autoria de Maria João Caçador, especialista em Fisioterapia Uroginecológica e formadora do curso Fisioterapia nas Disfunções do Pavimento Pélvico.