Saúde

Strength & Conditioning - ferramenta fundamental na fisioterapia [2/2]

Programas de strength & conditioning mostram eficácia na melhoria da dor, produção de força e funcionalidade

  • Qualquer intervenção clínica deverá contemplar um estímulo orientado e planeado de strength & conditioning.

    Cada vez mais a importância da Fisioterapia em contexto laboral reside em estimular a realização de exercício de flexibilidade e de ergonomia. Sabemos agora comparando programas de treino de força versus programas de treino ergonómico em trabalhadores com dor crónica há uma melhoria significativa com programas de treino de força nas competências de performance laboral e dor. Aliado às melhorias físicas, funcionais e fisiológicas houve uma melhoria nos itens emocionais avaliados [14]. 

    Também na Neurologia um bom programa de strength & conditioning é fundamental. O treino acaba por ser uma ferramenta de prevenir muitas das condições neurológicas com as quais combatemos todos os dias como Fisioterapeutas, mas o que é menos sabido é que o treino, principalmente de força, é um neuroprotector do Sistema Nervoso Central – quanto mais a intensidade maior o grau de protecção conferido. Dessa maneira podemos assumir que a implementação de um programa de strength & conditioning será eficaz para prevenir disfunções neurodegenerativas, como é o caso da Doença do Parkinson. Aliado à capacidade de prevenção que o treino tem nas patologias de foro neurológico também no controlo da sua progressão. Melhorias ao nível da performance motora, do padrão de marcha, na performance das actividades de vida diária e até nas funções cognitivas foram encontradas em pacientes com a Doença de Parkinson a seguir um plano de treino [15].

    Obviamente que também nas condições músculos esqueléticas os programas de strength & conditioning são tidas como ferramentas fundamentais. Considerando duas alterações estruturais tão frequentes como é a fasceíte plantar e a osteoartrite do joelhoconseguimos perceber que os protocolos de Fisioterapia “convencional”, normalmente utilizados para cada um dos casos, são menos eficazes comparativamente ao estímulo por exercícios de força de vários tipos. Não só a dor melhora mais mas também mais rápido, sempre aliado a aumentos de capacidades de produzir força e funcionalidade [16] [17] [18]. 

    Acaba por ser tendência quando presenciamos casos de dor crónica e síndromes associados à mesma condição tentar proteger, alarmar e repousar. No sentido contrário têm vindo as investigações científicas que mostram benefício na dor quando implementado programas de desenvolvimento de sistemas energéticos ou de treino de força personalizados e individualizados em casos diagnosticados como fibromialgia, síndrome de fadiga crónica, encefalomielite miálgica ou disfunções associadas a whiplash [19]. Curiosamente podemos atribuir um valor de melhorias funcionais em caso de dor crónica com o treino, mas também há relações entre inactividade física e diminuição do tamanho dos discos intervertebrais, maior quantidade de massa gorda nos músculos paraespinhais e também com dor lombar e disfuncionalidade [20]. Também a comparação entre a implementação de um program de strength & conditioning e cirurgia acabam por definir resultados bastante similares, mas obviamente com um custo económico, emocional e físico muito menor no caso do treino. Em casos de Impingement Subacromial e de Rotura Parcial (até 75%) da Coifa dos Rotadores com follow ups até 5 anos, mostrou a mesma taxa de sucesso entre cirurgia e treino [21] [22] [23] [24] [25] [26].

    Até em indivíduos saudáveis e assintomáticos já se conseguiu associar os efeitos do exercício crónico com a sensibilidade à dor. Assim podemos assumir que um programa de treino mantido poderá levar a menor predisposição à dor, não só por todos os benefícios já observados mas também por haver uma alteração na percepção da intensidade da dor [27].

    Aclarando as ideias temos que perceber que um programa de strength & conditioning tem todo um sistema a implementar baseado em pilares como é a educação, nutrição, movimento e mindset. Uma perspectiva multidimensional do indivíduo é necessária para haver os melhores resultados possível, quer nos pilares supracitados como também nas competências físicas – que por ordem são: mobilidade, estabilidade, competências da força e skills técnicos – para aprofundamento deste assunto é sugerido o trabalho de Gray Cook. Perceber também que a evidência inquestionável do strength & conditioning como ferramenta de reabilitação e prevenção para o Fisioterapeuta não retira o benefício de qualquer outra técnica utilizada pela nossa classe na intervenção a qualquer condição – apenas significa que nenhuma intervenção deveria ficar sem haver um estímulo orientado e planeado da melhor maneira de strength & conditioning.

     

    Referências:

    14. Sundstrup, E. et al. Workplace strength training prevents deterioration of work ability among workers with chronic pain and work disability: a randomized controlled trial. Scandinavian Journal of Work, Environmet & Health, 40, 3, 244-251, 2014.
    15. Lattari, Eduardo et al. Effects of Chronic Exercise on Severity, Quality of Life and Functionality in an Elderly Parkinson's Disease Patient: Case Report, Clinical Practice & Epidemiology in Mental Health. 10,126-128, 2014.
    16. Bressel, Eadric et al. High-Intensity Interval Training on an Aquatic Treadmill in Adults With Osteoarthritis: Effect on Pain, Balance, Function, and Mobility, Journal of Strength & Conditioning Research. 28, 8, 2088-2096, 2014.
    17. Rathleff, M. S. et al. High-load strength training improves outcome in patients with plantar fasciitis: A randomized controlled trial with 12-month follow-up, Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports. 25, 3, 292-300, 2015.
    18. Anwer, Shahnawz et al. Effect of Isometric Quadriceps Exercise on Muscle Strength, Pain, and Function in Patients with Knee Osteoarthritis: A Randomized Controlled Study, Journal of Physical Therapy Science. 26, 5, 745-748, 2014.
    19. Daenen, Liesbeth et al. Exercise, Not to Exercise, or How to Exercise in Patients With Chronic Pain? Applying Science to Practice, Clinical Journal of Pain. 31, 2, 108-114, 2015.
    20. Noll, Matias et al. Back Pain Prevalence and Its Associated Factors in Brazilian Athletes from Public High Schools: A Cross-Sectional Study. PLoS ONE, 11, 3, 2016.
    21: Haahr, J. et al. Exercise versus arthriscopic decompression in patients with subacromial impingement: a randomised, controlled study in 90 cases, with a one year follow up, Annals of the Reumatic Diseases. 64, 1, 760-764, 2005.
    22. Ketola, S. et al. Does arthroscopic acromioplasty provide any additional value in the treatment of shoulder impingement syndrome. The Bone and Joint Journal, 91, B, 1326-1334, 2009.
    23. Ketola, S. et al. No evidence of long-term benefits of artroscopic acromioplasty in the treatment of shoulder impingement syndrome. Bone & Joint Research, 2, 132-139, 2013.
    24. Haahr, J. et al. Exercises may be as efficient as subacromial decompression in patients with subacromial stage II impigement: 4-8 years' follow-up in a prospective randomized study. Scandinavian Journal of Rheumatology, 35, 3, 224-228, 2009.
    25. Kukkonen, J. et al. The Bone & Joint Journal, 96, B, 75-81, 2014.
    26. Jones, MD et al. Aerobic Training Increases Pain Tolerance in Healthy Individuals. Journal of Medicine & Science in Sports & Exercise, 46, 8, 1640-1647, 2014.

     

    Autor do artigo:

    João Ferreira é Fisioterapeuta, pela Escola Superior de Saúde do Porto, e Performance Specialist Level 1, pela EXOS. Tem formação em Functional Range Conditioning Mobility Specialist, pela Functional Anatomy Seminars de Dr. Andreo Spina, e soon-to-be Strength and Conditioning Specialist, pela National Strength and Conditioning Association (EUA). Possui ainda vasta formação, de referência mundial, na área da Terapia Manual e do Exercício. O autor tem interesse acrescido pelo exercício como metodologia de tratamento, recuperação e optimização de performance e pela sua monitorização, assim como também pela neurociência da dor. No seu percurso profissional destaca-se o trabalho desenvolvido no departamento médico de futebol do Futebol Clube do Porto e na FISIOGlobal, onde actualmente desempenha o papel de Fisioterapeuta e Performance Specialist com atletas de alto rendimento e não-atletas.

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