Saúde

A importância do movimento dos olhos na reabilitação da coluna

Se uma pessoa estiver a caminhar sobre uma corda bamba, qual é a única coisa que tenta fazer de forma a manter a coluna “estável”? Olhar na direção de um ponto fixo!

Artigo de opinião original escrito pelo formador Ryan Foley, doutorado em Fisioterapia, co-criador do sistema Integrated Kinetic Neurology (IKN) e formador na Master Science Lab no curso de Integrated Kinetic Neurology Approach (IKN) - Level 1. Tradução da responsabilidade da Master Science Lab.


Quão consciente está, neste momento, dos seus multífidos, músculos que se localizam na região lombar? Consegue isolar e ativar estes músculos, que durante tanto tempo nos disseram ser imperativos para a saúde e para umas costas sem dor? Se fosse esse o caso, as dores nas costas não seriam uma queixa tão comum. A razão pela qual não conseguimos realmente isolar esses músculos em específico é o facto de grande parte da comunicação neural do cérebro para a coluna ser REFLEXIVA e não consciente. O tónus ou tensão que sentimos em torno da nossa linha medial é fortemente ditada pelos sistemas visual e vestibular e, por isso, precisamos de combinar este fator com o excelente trabalho que muitos fisioterapeutas já desenvolvem para fazer com que as junções da coluna se movimentem melhor, de forma a permitir também um movimento mais robusto no mundo real. Na verdade, neste mundo real, não pensamos conscientemente na nossa coluna, ou pelo menos, não devíamos pensar.


Numa publicação recente no Instagram, falou-se sobre os olhos serem a nossa quinta extremidade. As nossas extremidades permitem-nos interagir com o ambiente e dissipar carga através das suas longas e tendinosas estruturas músculo-esqueléticas. Para o conseguirem fazer, elas têm de ser capazes de se dissociar do plano medial, para que essa linha medial possa permitir que a plataforma REFLEXIVA se mova. Na abordagem da Integração Cinética Neurológica, pretendemos que o sistema visual demonstre estas mesmas qualidades. Queremos que os olhos sejam capazes de tolerar uma sobrecarga em múltiplos vetores sem que o plano medial tenha que ser envolvido, e assim que conseguirmos isso, podemos integrá-los. O que observamos no contexto clínico, nas experiências de dor associadas ao plano medial, é que os pacientes não gostam de mexer os olhos (sem envolver também o movimento da coluna). Os olhos não se dissociam, em vez disso, permanecem “rígidos”, se assim podemos dizer. Por exemplo, se uma pessoa estiver a caminhar sobre uma corda bamba, qual é a única coisa que tenta fazer de forma a manter a coluna “estável”? Manter os olhos na direção de um ponto fixo! Isto ajuda no momento, porque se a pessoa mover os olhos em diferentes direções, provavelmente irá perder o equilíbrio (adaptação da coluna).


Mas e se as pessoas recorressem a uma estratégia semelhante para manter a estabilidade medial quando caminham ou se movem num ambiente real? Não é possível dissociar os olhos da coluna. A comunicação neural entre os olhos e a coluna pode não ser suficientemente eficaz para permitir o movimento reflexivo dos membros com qualidade. Lembre-se que os olhos também têm músculos que estão “equipados” com mecanorecetores, pelo que também precisam de se mover em toda a sua amplitude. De um ponto de vista evolutivo, se tiver um músculo que possua uma grande quantidade de mecanorecetores (terminações nervosas que comunicam ao cérebro o que está a acontecer), pode basicamente garantir que esse músculo foi concebido para se MOVER!


Assim sendo, se nós recorrermos a uma estratégia visual para ajudar a manter a estabilidade medial, na perspetiva da Integração Cinética Neurológica, isso significa que o nosso sistema visual e linha medial não têm capacidade de tolerar sobrecarga. Isto significa que o nosso sistema nervoso não confia na informação proveniente dos olhos e da coluna. É evidente que temos que determinar isto recorrendo a algumas estratégias de avaliação rápidas, de forma a identificar a capacidade de tolerância de sobrecarga da coluna através de movimentos específicos e de uma metodologia “hands-on”, em primeiro lugar. Primeiramente, trabalharíamos para permitir uma melhor comunicação entre as estruturas mediais e o sistema nervoso, através de movimentos específicos e intercalando este trabalho com estratégias respiratórias coordenadas. Assim que estivermos satisfeitos com a capacidade de as estruturas mediais suportarem carga, por si só, aí podemos passar para os olhos. A chave está em avaliar a capacidade de carga do sistema visual, incidindo especialmente nos vetores de movimento que não estão a funcionar tão bem, e depois INTEGRAR esse trabalho com as estratégias de reabilitação da coluna. A nossa abordagem não procura estabelecer nenhuma relação casual entre os olhos e a dor do paciente: nós estamos essencialmente concentrados em habilitar os subsistemas que permitem o movimento robusto a aceitarem e tolerarem melhor a sobrecarga. Se nós construirmos um ambiente de movimento robusto no indivíduo, então estaremos também a facilitar um ambiente onde a dor já não tem um valor significativo.


Os olhos terão sempre influência na coluna, como podemos constatar na literatura referida. Quando os olhos se movem numa direção particular, existe um aumento reflexivo da tensão num dos lados do corpo (particularmente em torno do pescoço), e uma redução da tensão no lado oposto. Por exemplo, se eu mover os meus olhos para a direita, os músculos que me permitem virar a minha cabeça para a direita vão aumentar o seu tónus, e os músculos que me permitem virar a minha cabeça para a esquerda vão, por sua vez, diminui-lo. Isto faz sentido do ponto de vista do movimento, pois porque haveríamos nós de querer um alto nível de tensão em todos os nossos músculos quando nos movemos? A existência dessa alteração REFLEXIVA permite a eficiência do movimento. MAS, para nós defensores da abordagem da Integração Cinética Neurológica, a verdadeira questão surge quando os olhos não se conseguem dissociar e grande parte do movimento se torna muito mais CONSCIENTE. Com uma baixa capacidade de tolerância através do movimento ocular, nós podemos manifestar um aumento da tensão no pescoço e na coluna como resposta defensiva. Se nós perdêssemos a capacidade de mexer os nossos olhos em direções diferentes, então perderíamos a variabilidade. E se perdêssemos a variabilidade, teríamos menos opções para adaptar. E com um movimento menos adaptativo, podemos tornar-nos menos robustos no nosso movimento. Tudo se resume a construir um movimento mais robusto em cada ser humano.


Dica de Reabilitação


Se é fã de utilizar isometrias suaves como forma de sobrecarregar e dessensibilizar os músculos cervicais, talvez seja interessante integrar posições específicas com os olhos. Em muitos estudos de caso, uma baixa tolerância de sobrecarga do músculo ocular aumenta a necessidade de trabalho da musculatura cervical. Então, por exemplo, se estamos a tentar melhorar a rotação cervical direita, podemos concentrar o olhar do lado direito (concentrando-se num ponto fixo, mas sem grande esforço) e fazer uma contração isométrica suave na rotação para a direita. Comece numa posição neutra e, gradualmente, vá executando a rotação, fixando o olhar num ponto diferente de cada vez. Permita que o movimento do olhar vá além do movimento do pescoço. É claro que uma avaliação personalizada e detalhada será sempre o elemento mais importante para determinar as necessidades de cada paciente. Contudo, se tivermos estes fatores que foram acima explicados em atenção, teremos um leque maior de opções para facilitar a mudança.



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