Existe bastante literatura que evidencia o papel negativo da dor no controlo motor, uma vez que influencia negativamente a neuroplasticidade associada com o output motor (Bank et al. 2013; Hodges and Tucker 2011; Mercier and Leonard 2011).
Para além disso, recentemente saiu um artigo que demonstrou que indivíduos que aprenderam uma tarefa motora enquanto experienciavam dor desenvolveram uma estratégia diferente de ativação muscular (que envolvia uma menor co-contração dos músculos do ombro e cotovelo) e que essa estratégia era mantida mesmo após a remoção do estímulo doloroso (Salomoni, Marinovic, Carrol and Hodges, 2019). Como facilmente percebemos, estes factos têm influência importantíssima num processo de reabilitação após uma lesão e respetivo quadro álgico. Curiosamente, este mesmo estudo demonstrou que apesar da dor diminuir a taxa inicial de aprendizagem, não impediu a aquisição e retenção de uma nova habilidade motora!
Assim coloca-se a questão: terá a dor, SEMPRE, um efeito negativo?
Dancey et al. 2014, 2016 demonstraram que um estímulo nocivo cutâneo (induzido com Capsaicina) promoveu uma maior aprendizagem motora durante a aquisição de uma habilidade!
Estes dados podem ser explicados pelo facto de a dor ter aumentado os mecanismos excitatórios e da ATENÇÃO, bem como um efeito interativo da dor na integração sensorial.
⚠️ Não estou a encorajar o uso de estímulos dolorosos nem a prática de exercício físico com dor! Até porque durante a ocorrência de um estímulo doloroso músculo-esquelético os resultados poderão ser diferentes! Para além disso, a perpetuação de um quadro álgico poderá desencadear a ocorrência de dor crónica e/ou neuropática!
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Um texto escrito por Tiago Rocha, coordenador científico para a área do Exercício da Master - Science Lab. Licenciado em Ciências do Desporto, com especialização em Treino de Alto Rendimento Desportivo, é mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário, pela FADEUP e pós-graduado em Reabilitação Neurológica (ESS).