Saúde

A Fisioterapia na Saúde do homem: Parte I

Mecanismos fisiológicos de uma erecção e ejaculação

A disfunção eréctil foi uma condição de saúde historicamente negligenciada devido a simplificações e tabus decorrentes da convergência de múltiplos factores associados a diversos contextos sociais e culturais. Durante vários anos, acreditou-se que a resposta sexual masculina estava associada apenas a questões do foro psicológico [1, 2], portanto, sem necessidade de grande relevo a nível da investigação científica em outras áreas ou desenvolvimento de opções terapêuticas. Apenas na década de 70 do século passado e, com a introdução do fármaco Seldenafil (nome comercial: Viagra) [3], a reabilitação peniana começa a desenvolver-se e várias causas orgânicas da disfunção eréctil são identificadas.


De que forma surge a intervenção da Fisioterapia neste âmbito? A rigidez peniana depende da regulação do fluxo sanguíneo para esta região anatómica [4], assumindo o pavimento pélvico um papel crucial na mediação deste fenómeno. Considerando o papel de relevo da Fisioterapia na reabilitação do pavimento pélvico e no movimento, esta deverá ser também uma das áreas de intervenção no âmbito da Saúde do homem.


Uma erecção é um processo complexo psiconeuroendócrino, neurovasculotecidular periférico [5] e muscular, que contempla diferentes fases e estádios de transdução dos sinais neurais a musculatura lisa e estriada do pénis. [3]


Uma erecção pode ser classificada como reflexogénica, psicogénica ou nocturna, pelo que passaremos a definir cada uma.


Uma erecção reflexogénica resulta da estimulação táctil aos órgãos genitais. Estes impulsos são recebidos pelos nervos sagrados (S2-S4) e torácicos (T10-T12) seguindo as vias sensitivas, activando os núcleos autonómicos dos nervos eferentes que desencadeiam o processo fisiológico de uma erecção.


Uma erecção psicogénica é desencadeada pela estimulação dos sentidos audiovisuais, ou de criação mental de fantasias. Estes estímulos seguem vias nervosas descendentes que activam os processos erécteis.


Uma erecção nocturna ocorre predominantemente durante a fase REM do sono [7], sendo que a maioria dos homens experiencia 3-5 erecções, com uma duração em média de 30 minutos por noite. [1] O sistema nervoso central é responsável pela activação das vias nervosas descendentes, ainda que os mecanismos específicos permaneçam desconhecidos. [1, 7]


A nível vascular, uma erecção é resultante de uma série de processos integrados que culminam na acumulação de sangue e rigidez peniana. Estes processos podem ser divididos em seis fases: flacidez, fase de enchimento, tumescência, erecção completa, rigidez e detumescência. [3] [1] Na 2.ª parte do presente artigo, serão sintetizadas cada uma destas fases.


Nota complementar:

Ainda que este artigo não pretenda incidir nas especificidades da anatomia peniana, talvez seja importante resumir alguma neuroanatomia.


O plexo pélvico representa uma parte crucial do Sistema Nervoso crucial para a inervação do pavimento pélvico e, consequentemente, os processos de erecção e ejaculação. Enquanto a porção caudal (nervo cavernoso) deste plexo inerva as células musculares lisas cavernosas, os outros ramos asseguram a inervação autonómica dos órgãos pélvicos, incluindo o tracto seminal. Motoneurónios sagrados são responsáveis pela inervação dos músculos pélvico-perineais, incluindo o isquiocavernoso e bulboesponjoso.


Existem duas principais vias de informação somatossensorial para a espinal medula, onde sinais sensoriais são integrados e transmitidos ao sistema nervoso central. O nervo dorsal peniano é derivado do nervo pudendo, sendo responsável pela transmissão de impulsos sensoriais do pénis, vias deferentes, próstata e uretra para os segmentos sagrados. [12]. Uma segunda via aferente também é constituída pelas fibras que derivam do nervo hipogástrico e raízes toracolombares, como foi acima mencionado neste artigo. Esta informação deverá ser considerada sempre que nos encontremos perante condições que poderão afetar o input e output nervoso. Estes tópicos serão mais aprofundados nos próximos artigos.



Ver Mais

Fonte:

1. Dorey, G., Conservative treatment of erectile dysfunction. 1: Anatomy/physiology. Br J Nurs, 2000. 9(11): p. 691-4.

2. Dorey, G., Conservative treatment of erectile dysfunction. 3: Literature review. Br J Nurs, 2000. 9(13): p. 859-63.

3. Andersson, K.E., Mechanisms of Penile Erection and Basis for Pharmacological Treatment of Erectile Dysfunction. Pharmacological Reviews, 2011. 63(4): p. 811.

4. Meldrum, D.R., et al., Erectile hydraulics: maximizing inflow while minimizing outflow. J Sex Med, 2014. 11(5): p. 1208-20.

5. Giuliano, F., Neurophysiology of erection and ejaculation. J Sex Med, 2011. 8 Suppl 4: p. 310-5.

6. Lavoisier, P., et al., Pelvic-floor muscle rehabilitation in erectile dysfunction and premature ejaculation. Phys Ther, 2014. 94(12): p. 1731-43.

7. Van Driel, M.F., Sleep-related erections throughout the ages. J Sex Med, 2014. 11(7): p. 1867-75.

8. Juarez, R. and Y. Cruz, Urinary and ejaculatory dysfunction induced by denervation of specific striated muscles anatomically related to the urethra in male rats. Neurourol Urodyn, 2014. 33(4): p. 437-42.

9. Dorey, G., et al., Randomised controlled trial of pelvic floor muscle exercises and manometric biofeedback for erectile dysfunction. Br J Gen Pract, 2004. 54(508): p. 819-25.

10. Anderson, R.U., et al., Sexual dysfunction in men with chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome: improvement after trigger point release and paradoxical relaxation training. J Urol, 2006. 176(4 Pt 1): p. 1534-8; discussion 1538-9.

11. Ballard, D.J., Treatment of erectile dysfunction: can pelvic muscle exercises improve sexual function? J Wound Ostomy Continence Nurs, 1997. 24(5): p. 255-64.

12. Papagiannopoulos, D., N. Khare, and A. Nehra, Evaluation of young men with organic erectile dysfunction. Asian J Androl, 2015. 17(1): p. 11-6.

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