Exercício

Biomecânica e Neurofisiologia: o todo como indispensável para o entendimento das partes

Considerações complementares à análise do movimento, por Tiago Rocha

O artigo apresentado tem como objectivo promover uma visão um pouco diferente relativamente à forma como a Biomecânica e a Neurofisiologia PODEM relacionar-se.


Em mecânica, existem 2 conceitos importantes: “moment of force” e “moment of couple”. De uma forma simplificada, e de acordo com a 2.ª Lei de Newton, quando uma força age num corpo sem restrições, induz uma aceleração linear do corpo na direcção da força. Para além disso, qualquer força que não cruze um determinado ponto, gera um efeito de giro (rotação) sobre esse ponto – “moment of force”. Ou seja, estas forças induzem efeitos tanto de translação como de rotação. Por outro lado, “moment of couple”, designa 2 forças paralelas, iguais e opostas. Estas forças, exercem apenas efeitos rotativos e os mesmos não dependem do local de aplicação.


Quando relacionamos a 3.ª Lei de Newton com a Biomecânica entendemos que os momentos que agem nos SEGMENTOS ADJACENTES são iguais e opostos. Assim, Torque Articular designa não 1 mas 2 momentos iguais e opostos que agem nos SEGMENTOS CORPORAIS ADJACENTES, relativamente ao mesmo eixo de rotação articular.


Outro aspecto importante é que as articulações humanas estão “equipadas” como actuadores lineares (músculos), pese embora na maioria das vezes o movimento seja também rotacional. Assim, para o corpo humano, não podemos afirmar que a existência de torques articulares (isto é, 2 momentos de força iguais e opostos a agir nos SEGMENTOS CORPORAIS ADJACENTES) são resultado directo da 3.ª Lei de Newton!


Se é verdade que quando um músculo puxa um osso, uma força igual e oposta age no músculo, sendo a força transmitida ao longo do complexo músculo-tendão, também é verdade que o efeito que é gerado na outra extremidade é uma questão aberta. E a “resposta” a esta questão relaciona-se com o local onde o músculo se conecta com o tecido corporal – na prática se é um músculo que se conecta com um segmento adjacente (músculo mono-articular) com segmentos não-adjacentes (músculo bi- ou multi-articular), se é um músculo que se conecta com vários ossos, se conectam a outros tecidos, etc.


Estes pormenores mudam totalmente a forma como o movimento deve ser analisado, pois podem fazer com que a actividade individual de alguns músculos seja negligenciada.


Se resumirmos a avaliação do movimento a torques articulares, desconhecemos, por exemplo, se os antagonistas estão activos ou não. Até porque os músculos normalmente produzem momentos de força não só na direcção desejada (momentos primários), mas também em outras direcções (momentos secundários).


Estes momentos secundários têm de ser contrabalançados e isto exige activação de músculos adicionais – antagonistas, sinergistas. Isto altera não só as forças que agem para a realização do movimento, mas também o gasto energético! E podemos questionar: qual o gasto energético de um movimento mal coordenado? Qual a diferença do trabalho mecânico total ou até gasto do energético total, em articulações que são cruzadas por músculos mono-articulares ou multi-articulares?


Se pensarmos, por exemplo, que músculos mono-articulares (ao contrário dos bi- ou multi-articulares) quando forçosamente alongados não permitem a transferência de energia para segmentos e/ou até articulações adjacentes, uma vez a energia ou é armazenada sobre a forma de energia elástica ou é dissipada sob a forma de calor. E ao falarmos de alongamento activo, temos de correlacionar com a contracção excêntrica: O PEVK (um dos segmentos que compõe a Titina) pode comportar-se como mola Entrópica ou Entálpica, dependendo se é aplicada baixa força ou alta força.

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Fonte:

Tiago Rocha, especialista em treino de alto rendimento e reabilitação neurológica

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