Na dor crónica, o dano tecidual não é, por norma, o principal problema. Nestas circunstâncias, o cérebro continua a produzir dor, mesmo após os tecidos serem restaurados e estarem fora de perigo.
Embora muitos médicos e/ou outros profissionais de saúde anunciem uma infinidade de tratamentos para a dor, muitas vezes nenhum dos seus métodos, de forma isolada ou combinada, são suficientes para tratar um cérebro excessivamente sensibilizado.
As experiências de dor formam a denominada “neurotag” de dor. Quando a dor persiste por tempo suficiente, outras células cerebrais fora deste cluster envolvem-se e os sintomas podem espalhar-se e a dor tornar-se crónica.
Neste contexto, a medicação pode ajudar de forma limitada, pelo que são necessárias abordagens activas para treinar o cérebro.
Graded Motor Imagery (GMI) é um processo de reabilitação emergente das mais recentes teorias da neurociência da dor e neuroplasticidade, usado para tratar patologias de dor e do movimento consequentes de sistemas nervosos alterados. Esta terapia estimula a actividade cerebral por etapas mensuráveis e monitorizadas, cuja complexidade aumenta à medida que o utente progride.
As três técnicas de tratamento incluem:
1. Treino da lateralidade – a pesquisa mostra que indivíduos com dor perdem, muitas vezes, a capacidade de discriminação esquerda/direita.
2. Exercícios de imagética motora - envolve pensar em mover-se sem realmente se mover. Visualizar actividades ou movimentos dolorosos para treinar o cérebro que essas ameaças percebidas não são realmente ameaças.
3. Terapia de espelho - treinar o cérebro para re-experenciar o modo como a parte do corpo associada à sintomatologia de dor deve movimentar-se.
Estas etapas devem ser realizadas sequencialmente, mas requerem uma abordagem flexível por parte do profissional de saúde que deverá regressar ao estádio anterior, caso os sintomas aumentem drasticamente.
Este é um programa de tratamento complexo para pacientes complexos. Os terapeutas devem dominar a neurociência da dor, de modo a que possam chegar a resultados clínicos de sucesso.
Embora em reabilitação se fale muito sobre as lesões e dor nos tecidos, lembra-te que é o cérebro quem toma sempre a decisão final sobre se deves ou não sentir dor. No brain, no pain.