Não reconhecer a influência de uma víscera abdominal enquanto potencial causa de dor referida, a nível cutâneo, é negligenciar a anatomia e, consequentemente, bons diagnósticos e boas terapêuticas.
A título de exemplo:
- O fígado pode originar dor somática através do dermatoma inervado pelos nervos cutâneos e nervos espinhais de T5 a L3, gerando hiperalgesia secundária ou alodinia cutânea.
- Dor cutânea referida na região epigástrica do abdómen ou no hipocôndrio direito poderão ser resultado desta sensibilização espinal.
- Se existe um bombardeamento permanente de nocicepção proveniente desta víscera, poderá gerar-se um fenómeno de sensibilização espinal segmentária.
- Além da dor cutânea nas áreas abdominais acima indicadas, poderá desenvolver-se também hiperalgesia secundária ou alodinia cutânea ou muscular no território entre T5-L3, o que pode ser percepcionado pelo utente como dor na região torácica e lombar.
Além do trabalho manual sobre o tecido cutâneo e muscular envolvido, será lógico serem empregues manobras específicas que visem favorecer a mobilidade e consequente vascularização à víscera envolvida (no caso o fígado, e que é distinto de mobilizar diretamente a víscera).
Existem, por isso, manobras manuais que visam, tal como noutras regiões corporais, melhorar as aferências neurais e mecânicas, na perspetiva de se limitar/inibir o seu papel nociceptor, caso a mesma não se encontre a cumprir a sua função. Algo particularmente útil em disfunções funcionais e não estruturais da víscera.
Posto isto, embora a abordagem isolada através da manipulação visceral, em muitos casos, acarrete melhorias (até com apenas 1 sessão), é lógico que as técnicas empregues sejam enquadrada numa abordagem global, no que à funcionalidade do indivíduo diz respeito.
Os últimos anos foram particularmente profícuos quanto ao estudo da eficácia clínica da manipulação visceral, numa série de condições e patologias:
- Melhoria clínica significativa nos distúrbios do trato urinário inferior em mulheres. [1]
- Contribui positivamente no tratamento de pacientes com síndrome do intestino irritável. [2]
- Melhoria da qualidade de vida e da dor relacionada com a hemorragia uterina anormal em pacientes com endometriose. [3, 4]
- Eficácia no tratamento de mulheres com rigidez dolorosa dos músculos do pavimento pélvico. [5]
- Relevância clínica sobre as cólicas infantis. [6]
- Efectividade na mobilidade do rim e na redução do limiar de dor em indivíduos com lombalgia inespecífica. [7]
- Melhoria da distensão abdominal e da dor a curto e longo-prazos, e diminuição da sensibilidade rectal em pacientes com síndrome do intestino irritável. [8]
- Produção de hipoalgesia imediata nos níveis vertebrais com relação ao tecido fascial do órgão mobilizado em indivíduos assintomáticos. [9]
- Opção segura e eficaz no tratamento conservador da discinesia biliar. [10]
- Complemento terapêutico eficaz para a melhoria da capacidade respiratória de utentes com doença pulmonar obstrutiva crónica gravemente alterada. [11]
- Efeitos benéficos quando associada a outras técnicas de terapia manual e exercício em casos de dor crónica inespecífica. [12]