Saúde

Dores nas costas roubam mais qualidade de vida que AVC

Um estudo do Instituto para a Avaliação e Métrica na Saúde da Universidade de Washington revela que as dores de costas são das doenças que mais anos de vida saudável roubam aos portugueses, à frente de casos de AVC, diabetes e diferentes tipos de cancro.

Que problema de saúde rouba mais anos de vida saudável aos portugueses, incluindo anos de vida com algum grau de incapacidade e morte prematuras? As respostas em novos mapas publicados ontem pelo Instituto para a Avaliação e Métrica na Saúde, um centro de investigação internacional sediado na Universidade de Washington, podem baralhar o senso comum: em primeiro lugar surgem as dores de costas, à frente de casos de AVC ou mesmo da diabetes, assim como dos diferentes tipos de cancro se forem avaliados de forma isolada – em conjunto são a doença que mais afecta a qualidade de vida dos portugueses, representando 17% dos anos de vida saudável perdidos anualmente no país. Em 2010 as lombalgias foram ligadas a uma perda de 248 mil anos de vida saudável entre os portugueses, o dobro do tempo perdido devido a acidentes de viação ou cancro do pulmão.

Com este tipo de informação, baseada em estatísticas nacionais para 21 regiões do mundo, o objectivo é que as políticas e investimentos em Saúde sejam cada vez mais eficazes, combatendo frentes de emergentes, esperam os investigadores à frente do projecto que teve os primeiros resultados em 1990, com o apoio do Banco Mundial. Agora, com financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates, o instituto promete cada vez mais resultados assim como ferramentas analíticas acessíveis na internet, para ajudar a tomar decisões a nível local.
Embora as hipóteses de comparação sejam praticamente inesgotáveis, destaca-se na síntese de resultados apresentada para Portugal – além do peso crescente das lombalgias e outras dores musculares mas também de quedas e cancro colorrectal – o facto de doença de Alzheimer ter, no espaço de duas décadas, duplicado o seu impacto na saúde global dos portugueses. O número de anos de vida saudáveis perdidos anualmente por causa desta doença neurodegenerativa subiu 103% entre 1990 e 2010, para um total de 54 mil anos. A diabetes, doença com elevada prevalência no país mas também para a qual existe mais medicação e tratamento, foi associada em 2010 a uma perda de 109 mil anos de vida saudável, apenas o dobro.

Os investigadores oferecem ainda outras pistas, construindo um ranking para as principais causas de doença em Portugal e comparando o impacto que têm face a outros países com um rendimento per capita semelhante como Chipre, República Checa, Malta ou Arábia Saudita. Aqui os resultados voltam a mostrar um pior desempenho na abordagem às lombalgias e outras dores crónicas, bem como em relação ao cancro do estômago ou asma, que roubam mais saúde aos portugueses do que nestes países que servem de comparação. Portugal surge, em contrapartida, como o país com melhor desempenho no que diz respeito à doença cardíaca. Apesar de esta ser a terceira causa de perda de vida saudável no país, os anos perdidos anualmente baixaram 26% nas últimas duas décadas. O mesmo se passa com o AVC, que por ano representa hoje menos 47% de tempo perdido do que em 1990. Ainda assim, o país entre o grupo usado na comparação com melhores resultados é Malta– desde 2010 tem uma nova estratégia de prevenção nacional de doenças não transmissíveis que incluem a recomendação de 30 minutos de exercício diário na escola.

Lacunas | Duarte Correia, da Associação Portuguesa Para o Estudo da Dor, e Maria do Rosário Reis, da Associação Alzheimer Portugal, referem que o peso das doenças que representam no país é conhecido, mas têm faltado políticas mais assertivas. Correia lembra que um estudo publicado em 2011, da autoria do economista Miguel Gouveia, estimou que os custos indirectos da dor crónica nas costas e articulações em Portugal, tendo em conta absentismo laboral ou reformas antecipadas, superam os 730 milhões de euros anuais. “O que é caro deixar o doente sem tratamento”, sublinha o médico, alertando que é preciso aumentar a acessibilidade a consultas mas também a medicação. Um outro estudo, publicado em 2008, revelou que só 3% de 1797 doentes com dor crónica tinha consultado um médico especialista.

Do lado da doença de Alzheimer, que afecta 90 mil portugueses, Maria do Rosário Reis aponta a falta de cuidados profissionais e formação no seguimento desta doença como barreiras a melhores resultados. “Noutros países, nomeadamente em França, existem planos ou estratégias nacionais para as demências”, diz, defendendo que Portugal deveria também já ter um rumo nesta área. Mais apoios sociais e equipamentos destinados a acompanhar estes doentes, mais investigação sobre causas, prevenção e diagnóstico e a criação de um quadro de direitos para pessoas em situação de incapacidade seriam medidas prioritárias.

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Fonte:

Notícia publicada no Jornal i

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