Saúde

O papel e a influência directa no comportamento do recém-nascido

O posicionamento da cabeça do bebé no final da gestação e as pressões uterinas decorrentes do parto estão na origem da maioria das queixas neonatais.

O nascimento apresenta-se como um verdadeiro desafio para o recém-nascido. Tensão, dor, compressões no corpo e na cabeça, são alguns dos motivos que originam “stress pós-traumático” nos bebés, influenciando e ditando a sua forma de estar durante os primeiros meses de vida.


Olhando para o aspecto de um recém-nascido é fácil encontrar semelhanças com um lutador de boxe, no final de um combate: olhos papudos, rosto inchado, pele com manchas arroxeadas. E é assim, semelhante a um combate, que o parto é percepcionado pelo bebé, acabando por isso por deixar marcas físicas e emocionais, que interferem com o seu bem-estar nos primeiros tempos.


A nível metabólico, o trauma e stress associados ao momento do nascimento, equipara-se ao estado de alerta e à sensação de perigo iminente que um adulto pode sentir.


Para conseguir atravessar o estreito canal que representa a pélvis da mãe, os ossos do crânio do bebé não estão completamente fundidos. As suturas cranianas, espaço existente entre os ossos do crânio, protege o cérebro através de uma fina membrana que combina protecção e flexibilidade, e que permite que a cabeça do bebé se adapte às várias forças que são exercidas no canal de parto. A fusão desses ossos é um processo contínuo até aos 15 meses do bebé.


As formas que a cabeça é forçada a adoptar é um processo denominado de moldagem craniana, processo este que pode estar na origem de escolioses, má oclusão dentária, astigmatismo, irritabilidade, etc. Mas, embora este processo possa ser traumático, também é estimulante e crucial pois as forças e pressões exercidas pelo útero, são como uma “massagem fisiológica” que estimulam todo o corpo do bebé para iniciar funções até então inexploradas no ventre materno.




A maioria das tensões são rectificadas naturalmente durante os primeiros dez dias de vida, à medida que as capacidade inatas de auto-regulação vão entrando em acção (habilidade do sistema nervoso central): chorar, mamar e movimentar-se permitem então que as estruturas envolvidas encontrem uma forma mais saudável de se organizar e de recuperar o seu normal funcionamento (princípio básico da terapia crânio-sacral).


Neste momento, o apoio e o amor/carinho dos pais e de toda a equipa que auxilia no momento do nascimento, podem melhorar de forma significativa a capacidade de auto-regulação.


A amamentação materna, imediatamente após o parto, é também um momento-chave para o bebé se libertar do stress fisiológico e traumático e para que se sinta protegido e nutrido. 90% dos recém-nascidos agarra a mama espontaneamente após 70 minutos de contacto pele com pele.


O contacto precoce do bebé com a mãe irá despertar no recém-nascido as membranas instintivas de busca pelo peito materno para se alimentar. Para tal, o bebé irá rastejar lentamente em direcção ao peito materno. Este processo de auto-vinculação permite ao recém-nascido confiar nos seus instintos naturais e estar em contacto com a sua habilidade inacta para responder aos desafios.


Dependendo do tipo de parto, a forma como a estrutura do corpo e o sistema nervoso do bebé é afectado, também varia: se o parto é demasiado longo, o bebé é exposto à pressão mantida, sem movimento ou progresso, podendo originar assimetrias ósseas (plagiocefalia). Se o parto é demasiado curto, a modelação craniana e outras partes do corpo não têm tempo para integrar a experiência. Num parto medicado (epidural, indução de oxitocina, rotura manual da bolsa de águas e estimulação em excesso do útero, entre outros), a possibilidade das contracções poderem ter uma frequência anormalmente longa e forte vai aumentar o stress no bebé. O mesmo quando é necessário o recurso a acções mecânicas como fórceps, ventosa ou cesariana (mesmo que seja para salvar a vida de um dos intervenientes - mãe ou bebé).


Perante estas intervenções ou outras não enunciadas (peso, altura, corte precoce do cordão umbilical, apressar a amamentação), é provável que o recém-nascido apresente uma atitude de rejeição ao peito materno, começando a chorar de forma inconsolável, por não se conseguir auto-regular, estando sujeito a uma elevada carga de stress decorrente do parto.


Inicia-se assim uma primeira conexão traumática para as duas partes, mãe e bebé. Possivelmente, indicarão à mãe que pode recorrer ao biberão, com o argumento de que “ainda não ocorreu a subida do leite”, ou inclusive, de que “o seu leite pode ser insuficiente/não ter a qualidade/quantidade necessária para o seu filho” (expressões usadas em contexto real).


Todas estas interferências e desrespeito pelos timmings quer do bebé quer da progenitora, irá confundir o processo fisiológico de nascimento, alterar a natural conexão do recém-nascido com a mãe e marcar a sua conduta nos primeiros dias/meses de vida.


Por este facto, existem diversos casos de bebés inconsoláveis, com dificuldade em dormir, cólicas, obstipação ou regurgitação frequente, entre outros, com afecções inflamatórias recorrentes sistema imunitário deprimido ou com reflexo de Moro sensível (reacção de susto muito activa), entre várias outras alterações, como disfunções vertebrais que induzem um desequilíbrio ortossimpático ou ainda modificações do diafragma que produzem mutações na pressão intra-abdominal.


De acordo com a osteopatia, a origem destes sintomas está quase sempre associada ou ao modo como a cabeça do bebé fica posicionada no final da gestação ou às alterações decorrentes das pressões uterinas na base do crânio do bebé, situada acima da primeira vértebra cervical, que modifica o normal funcionamento do nervo vago, responsável pela inervação parassimpática de muitos órgãos e vísceras presentes na caixa torácica e abdominal. Quando o nervo vago é afectado, pode produzir sintomas, por exemplo, no palato, na faringe, nas cordas vocais, na base da língua, na função respiratória, no ritmo cardíaco e no aparelho digestivo.


Graças às subtis e delicadas técnicas manipulativas, é possível promover a habilidade psico-físico-emocional do bebé se auto-regular, libertando o stress decorrente do seu nascimento de forma mais rápida e fácil. Uma abordagem terapêutica apoiada pelas mais recentes descobertas da neurociência e da psicologia perinatal.


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"Trato de restabelecer saúde. Não trato ou corrijo o problema. Deste modo, abro as portas para que o corpo faça o que necessita de fazer com a sua própria força vital." Dr. Rollin Becker

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