Saúde

STRENGTH & CONDITIONING - FERRAMENTA FUNDAMENTAL NA FISIOTERAPIA [1/2]

  • De que forma o Strength & Conditioning adiciona um conhecimento fundamental para a intervenção de sucesso em pacientes de qualquer foro?

    Recentes investigações científicas revelam benefícios significativos dos programas de Strength & Conditioning em idosos

    Strength & Conditioning é um conceito baseado no desenvolvimento fisiológico para melhoria de performance individual em todos os níveis. Assim, Strength & Conditioning é qualquer actividade planeada e orientada com o objectivo de melhoria do fitness, trabalhando várias competências físicas. O conceito de Strength & Conditioning, apesar de ser tendencialmente ligado aos atletas de alto rendimento, é transversal a todos os indivíduos – evoluindo a performance das actividades de vida diária como o rendimento atlético, pois ambas necessitam de força e skills técnicos. A aplicação de um programa bem planeado de Strength & Conditioning irá sempre melhorar performance e diminuir probabilidade de lesão pela melhoria de vários factores como força, estabilidade, endurance e mobilidade, orientado por um profissional qualificado que assegure a qualidade biomecânica dos movimentos de treino e consiga potenciar os ganhos performativos ao máximo [1] [2].

    Sendo os programas de Strength & Conditioning desenvolvidos especialmente para atletas de alto rendimento, os mesmos são de enorme valia para todos os Fisioterapeutas. Assim, conhecimento aprofundado sobre treino e o seu planeamento poderá ter benefícios enormes para pacientes de qualquer índole.

    Apesar de a grande maioria dos Fisioterapeutas acabarem por utilizar o exercício como uma ferramenta importante nas intervenções músculo-esqueléticas ou desportiva, muitas vezes descuram a utilidade do treino em disfunções de outros foros ou para populações especiais. Fundamental também será perceber no final da leitura deste artigo, que apesar de actividade física ser importante há uma grande diferença para o treino – este que ter de ser avaliado, reavaliado e orientado da melhor maneira, respeitando todos os princípios inerentes ao treino. Por exemplo, apesar do incentivo de uma manutenção de uma vida activa domiciliária, há já estudos que relatam diferenças positivas significativas no treino supervisionado versus treino não supervisionado em pacientes com síndromes de dor crónica lombar, revelando maiores evoluções nas medições de fitness, de melhoria de dor, de melhoria da composição corporal (descida do Índice de Massa Corporal) quando os pacientes são acompanhados por um profissional de Strength & Conditioning [3].

    Recentes investigações científicas de qualidade mostram o enorme benefício de implementação de um programa de Strength & Conditioning na população acima dos 65 anos. Comparando idosos fallers com non-fallers conseguiu perceber-se que os que sofriam de um maior número de quedas apresentavam valores de produção de força dos membros inferiores claramente menores e um padrão de marcha alterado e alterações mais marcadas em testes de estabilidade dinâmicos. Aliado a este tipo de informação sabemos que o treino de força comparativamente ao treino de equilíbrio na população geriátrica tem uma eficácia em termos de funcionalidade e estabilidade maior e mais continuada no tempo. É perceptível então os resultados que se mostram em menores números de quedas em idosos, que são promotoras de muitas condições que retiram a independência, causadoras de dor e de disfuncionalidade [4] [5] [6] [7].

    Apesar disto temos que perceber que para haver uma melhoria constante temos que oferecer aos nossos pacientes um estímulo constante. Percebe-se isso quando há evidência que um programa de Strength & Conditioning dedicado a idosos acabam por ter melhorias claras no aumento de massa magra, na produção de força, que se revêem na funcionalidade dos indivíduos como por exemplo no equilíbrio, walking time e performance nas suas actividades de vida diária. Percebemos, porém, que se após este trabalho houver uma cessação do estímulo há também uma regressão das melhorias observadas. Para tal não suceder, é descrito que com manutenção de uma sessão semanal acaba por continuar a haver melhorias em equilíbrio e walking time e que mantendo duas sessões semanais há uma melhoria adicional de força máxima [8] [9] [7].

    A implementação de programas de Strength & Conditioning em indivíduos com osteoporose está bastante consolidado como uma das melhores ferramentas para a melhoria da condição estrutural e funcional. É importante perceber que, normalmente, para haver uma melhoria da densidade mineral óssea a duração do programa de treino terá que ser alongado e mantido. Não obstante, com um período reduzido há imediatamente melhorias ao nível do aumento de massa magra, melhor funcionalidade, competência para o exercício e motivação. Também em situações de lipodistrofia, como é habitual em indivíduos com VIH, se observou melhorias estruturais, com aumento da densidade mineral óssea em todas as regiões estudadas. É interessante saber que quanto maior intensidade do treino de força, maior é o resultado a nível estrutural [10] [11] [12] [13].

     

    Ler 2.ª parte do artigo aqui: http://bit.ly/2sqz8ii    

     

    Referências:
    1. Birrer, Richard B.; O'Connor, Francis G.; Kane, Shawn F.. Musculosketelal and Sports Medicine for the Primary Care Practitioner. 393, 2011. CRC Press.
    2. Haff, Gregory
     G. et alEssential of Strength Training and Conditioning, 4th, Human Kinetics, 2016.
    3. Reilly, 
    Kevin MA et al. Differences between a Supervised and Independent Strength and Conditioning Program with Chronic Low Back Syndromes, Journal of Occupational Medicine, 1989.
    4. Cebolla,
     Elaine C. et alBalance, gait, functionality and strength: comparison between elderly fallers and non-fallers, Brazilian Journal Physical Therapy, 19, 2,146-151, 2015.
    5. Hall,
     Emily A. et alStrength-Training Protocols to Improve Deficits in Participants With Chronic Ankle Instability: A Randomized Controlled Trial, Jornal of Athletic Training, 50,1,36-44, 2015.
    6. Joshua,
     Abraham M. et alEffectiveness of Progressive Resistance Strength Training Versus Traditional Balance Exercise in Improving Balance Among the Elderly - A Randomised Controlled, Journal of Clinical & Diagnostic Research, 8, 3, 98-102, 2014.
    7. Stout
    Jeffrey R. et al. Effect of calcium B-hydroxy-B-methylbutyrate (CaHMB) with and without resistance training in men and women 65+ yrs: a randomized, double-blind pilot trial, Experimental Gerontology, 48,1303-1310, 2013.
    8. J. Holviala et al, Effects of prolonged and maintenance strength training on force production, walking, and balance in aging women and men, Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 24, 1, 224-233, 2014.
    9. Correa
    Cleiton S. et al. Effects of strength, detraining and retraining in muscle strength, hypertrophy and functional tasks in older female adults, Clinical Physiology and Functional Imaging, 36, 4, 306-310, 2011.
    10. Raastad, T et al. Marked Improvement in Physical Function through Gains in Muscle Strength and Thigh Muscle Size after Heavy-Load Strength Training in Women with Established Postmenopausal Osteoporosis, Osteoporosis & Physical Activity, 3, 2, 424, 2015.
    11. Santos,
     Wlaldemir R. et al. Impact of Strength Training on Bone Mineral Density in Patients Infected With HIV Exhibiting Lipodystrophy, Journal of Strength & Conditioning Research, 29, 12, 3466-3471, 2015.
    12. Mosti,
     Mats P. et al. Maximal Strength Training Improves Bone Mineral Density and Neuromuscular Performance in Young Adult Women, Journal of Strength & Conditioning Research, 28, 10, 2935-2945, 2014.
    13. Teictahl
    Andrew J et ak. Physical inactivity is associated with narrower lumbar intervertebral discs, high fat content of paraspinal muscles and low back pain and disability, Arthritis Research and Therapy,17, 1, 114-121, 2015.

     

    Autor do artigo:

    João Ferreira é Fisioterapeuta, pela Escola Superior de Saúde do Porto, e Performance Specialist Level 1, pela EXOS. Tem formação em Functional Range Conditioning Mobility Specialist, pela Functional Anatomy Seminars de Dr. Andreo Spina, e soon-to-be Strength and Conditioning Specialist, pela National Strength and Conditioning Association (EUA). Possui ainda vasta formação, de referência mundial, na área da Terapia Manual e do Exercício. O autor tem interesse acrescido pelo exercício como metodologia de tratamento, recuperação e optimização de performance e pela sua monitorização, assim como também pela neurociência da dor. No seu percurso profissional destaca-se o trabalho desenvolvido no departamento médico de futebol do Futebol Clube do Porto e na FISIOGlobal, onde actualmente desempenha o papel de Fisioterapeuta e Performance Specialist com atletas de alto rendimento e não-atletas.

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