Artigo de autoria de Maria João Caçador, formadora do curso Fisioterapia nas (Dis)funções do Pavimento Pélvico.
Existem inúmeras técnicas de tratamento na área das disfunções pélvicas: desde os exercícios de kegel até aos hipopressivos, passando pela mudança comportamental, terapia manual e equipamentos de última-geração. A pergunta que se impõe é: como escolher a ferramenta ideal?
A resposta básica é: depende dos objetivos que os achados clínicos revelarem. Contudo, ao salientar a vantagem que cada técnica aporta, pode tornar-se mais claro a aplicabilidade da mesma.
As técnicas manuais geralmente realizam-se com palpação bi ou unidigital por via vaginal ou anal. O objetivo é aceder a estruturas musculares, fasciais, articulares e viscerais, difíceis de aceder por via externa, como é o caso dos músculos elevadores do ânus, colo do útero, articulação sacrococcígea, etc. Utilizam-se, sobretudo, para melhorar a circulação sanguínea, diminuir a isquemia, diminuir a tensão muscular, flexibilizar tecidos, mobilização articular, ativação muscular e otimização da propriocepção. Dentro desta área, encontram-se técnicas de massagem transversal profunda, segundo cyriax, que são fundamentais para a resolução de fibroses das episiotomias e lacerações, causa frequente de restrições mecânicas e dor em disfunção pélvica; a massagem perineal, utilizada fortemente na gravidez para flexibilizar a musculatura pélvica para o parto; o estiramento dos músculos do pavimento pélvico que são manobras que combinam cyriax, massagem perineal e técnicas miofasciais, utilizadas para colocar em tensão máxima as fibras musculares; a estimulação do reflexo de estiramento para que, uma vez conseguida uma contração refléxica, o paciente acompanhe e reforce a mesma contração ativamente.
A respeito das técnicas instrumentais, deve salientar-se que são um complemento para eliminar as restrições fibróticas, resolver a hiper ou a hipotonia, baixar o limiar de dor e colaborar no ganho de força muscular. Os equipamentos de apoio mais frequentes são o biofeedback, a electroestimulação e a diatermia.
O biofeedback utiliza-se para a obtenção de informação objetiva acerca da funcionalidade muscular, através de estímulo visual ou auditivo e deve ser proporcional à atividade que se está a medir. No caso do pavimento pélvico, o biofeedback serve para tomar consciência da contração muscular, controlar mais eficazmente a contração durante o plano de tratamento, verificar a correta integração do pavimento pélvico durante os esforços, em caso de hipertonia aprender a relaxar, aprender a ativar corretamente a musculatura abdominal durante os puxos maternos no parto, e aumentar a adesão do paciente ao plano de intervenção. Os modelos de biofeedback frequentemente utilizados são do tipo eletromiográfico e manométrico: o primeiro deteta e intervém na atividade elétrica dos músculos alvo de avaliação, e o segundo consiste numa pequena câmara de pressão alocada a uma sonda que mede a pressão de encerramento vaginal ou anal.
A electroestimulação cutânea e intracavitária, foi uma das primeiras técnicas a ser estudada e os primeiros estudos na área da reabilitação pélvica fazem referência à electroestimulação em casos de incontinência urinária, e serve, entre várias condições clínicas, para: inibir a hiperatividade vesical em pacientes com urgência miccional, serve para auxiliar o treino de ganho de força ao recrutar mais fibras musculares, e analgésica através da corrente TENS. Geralmente é uma técnica que não se utiliza de forma isolada.
A diatermia, em que se faz uso de corrente de alta frequência e elevada intensidade, em que o principal objetivo é incrementar o aumento de temperatura no local alvo de tratamento, urge para aumentar o aporte sanguíneo e melhorar o trofismo tecidular, necessário para processos de regeneração, muito úteis em cicatrizes, pós-cirúrgicos e em situações de dor pélvica crónica.
A mudança comportamental serve para diminuir a probabilidade de recidiva e por isso, a recolha de uma ótima anamnese é determinante não só para eleger as melhores técnicas terapêuticas, quanto para orientar o paciente de forma personalizada.