Exercício

Abordagem dinâmica sobre postura corporal

A mudança de paradigma: sabe-se que postura ideal não existe, mas então a execução de tarefas ou exercícios físicos, deve ser deixada ao acaso?

Artigo de opinião escrito por Edilene Dantas, fisioterapeuta e formadora da Master para a Masterclass de Abordagem dinâmica sobre postura.


A prática profissional a partir do conceito sobre Postura corporal até os nossos dias atuais, ainda é tão somente associada ao estado estático do corpo, em relação ao alinhamento dos segmentos corporais, com o mínimo gasto de energia possível (Francescco, 2001; Kendall, 2007). Tal abordagem, vem sendo fomentada desde tempos passados, provavelmente em função de uma interpretação da estrutura corporal separada da sua função, o que resultou num olhar de causa e efeito, sem considerar outras variáveis envolvidas.


Mitos e confusões surgiram sobre esse tema. A Postura corporal já foi adjetivada de boa ou má e que a falta de um padrão postural “ideal” estaria associada a causas de lesões ou dor nas costas. Desde então, a prática dos profissionais do movimento consistiu em reproduzir uma conduta enraizada na frase: “costas direitas, barriga para dentro e os ombros para trás”. É preciso compreender que a extensão corporal ou outro padrão desejado, é construído a partir de uma coordenação sinérgica entre os segmentos corporais orquestrados pelo sistema nervoso (Latash, 2015). Diante dessa premissa, vale refletir como se encontra a coordenação e atitude postural dos indivíduos, se nos últimos dez anos, assistimos a um aumento das patologias musculoesqueléticas sendo a maioria, associadas ao estilo de vida. Quando podíamos estar numa era mais saudável, constatamos aumento de prevalência e incidência tanto de casos de diabetes tipo 2 quanto dores na coluna (não só lombar), muitos desses problemas são conhecidos, mas atualmente são encontrados em idades cada vez mais tenras (Lieberman, 2013).


Sabe-se que postura ideal não existe, mas então a execução de tarefas ou exercícios físicos, devem ser deixados ao acaso? Parece-me paradoxal esse comportamento pois traduz ausência da orientação pelos profissionais do movimento. Um indivíduo sentado durante horas em frente ao computador para trabalhar ou estudar que coloque sua cintura pélvica em retroversão, causa deformação nos tecidos passivos e pode abrir oportunidades para aumento de tensão local. Essa correção ao sentar seria criar uma linguagem nocebo? Acredito que não. Segundo literatura existente levantar-se e trocar de posição favorece processos de hidratação discal e evita padrões posturais desfavoráveis (Faries & Greenwood, 2007; Granjean, 1991).


Sob uma perspectiva atual, compreende-se que a postura corporal sofre influências das assimetrias individuais, contexto cultural, padrões corporais habituais, fatores etológicos e fatores psicossociais alocados ao individuo, a menos que uma consideração integrada seja levada em conta a fim de reconhecer a interação global entre características, funções e outras variáveis, a chance de entender o “algo” que se passa será remota. Muito se fala em alterações posturais tais como Hiperlordose ou hipercifose, mas é preciso compreender como a coluna vertebral responde também a diminuição das curvas fisiológicas da região a ser avaliada e o que propor enquanto prática de exercício físico na direção da melhoria da função. A escoliose, que na maioria da literatura encontrada tem característica 80% idiopática, não quer dizer que não tem causa, quer dizer que não conhecemos a mesma (Houglum & Bertoti, 2014).


Dada a prevalência desse tema, acredito na pro atividade enquanto profissionais de saúde caso saibamos onde procurar as bases para uma melhor atuação profissional (Schreiber et al., 2014; Weiss et al., 2006).


É de importância fulcral, lembrar que o sistema de movimento humano é considerado um sistema dinâmico, o que significa estarmos sob ação constate de forças, acelerando e desacelerando na produção de movimento (Gomes, 2015). Assim, o indivíduo está sujeito a ajustes corporais constantes dentro de uma relação reostática com o meio ambiente, sendo o maior desafio, a estabilidade corporal dentro da base de suporte não em posição ortostática, e sim a coordenação do eixo axial, membros e posicionamento da cabeça, adicionados a reação necessária para gerar respostas favoráveis a tarefa a ser executada. É preciso pensar e atuar na característica dinâmica da postura corporal, em função de um objetivo/ tarefa proposta, de maneira coordenada minimizando défits, compensações ou falhas de controle motor (Bankoff & Bekedorf, 2006; Chaitow & DeLany, 2011; Damiani, Gonçalves, Kuhl, Aloi, & Nascimento, 2016).


Existem bases e critérios a seguir onde é possível unificar estratégias através do treino postural proposto, a fim de ensinar os nossos clientes ajustes corporais nas várias tarefas realizadas em atividades de vida diária, horas laborais ou treinos de força. Não pensando no perfeito, mas no bem feito! A falta de sistematização do estudo sobre a postura corporal faz com que haja dúvidas sobre a sua verdadeira contribuição para o sistema de movimento humano, é preciso um fio condutor.


Referências Bibliográficas


Bankoff, A., & Bekedorf, R. (2006). Bases neurofisiológicas do equilíbrio postural. Efdportes - Revista Digital- Buenos Aires, No 106.


Chaitow, L., & DeLany, J. (2011). Posture, acture and balance. Clinical Application of Neuromuscular Techniques, Volume 2, 17–60. http://doi.org/10.1016/b978-0-443-06815-7.00002-4


Damiani, D., Gonçalves, V., Kuhl, L., Aloi, P., & Nascimento, A. (2016). Aspectos neurofuncionais do cerebelo: o fim de um dogma. Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery, 35(01), 039–044. http://doi.org/10.1055/s-0035-1570498


Faries, M. D., & Greenwood, M. (2007). Core training: Stabilizing the confusion. Strength and Conditioning Journal, 29(2), 10–25. http://doi.org/10.1519/1533-4295(2007)29[10:ctstc]2.0.co;2


Francescco, T. (2001). Tratados de exercícios corretivos aplicados a reeducação motora postural (1o edição). São Paulo: Editora Manole.


Gomes, M. V. S. da S. (2015). Movimento inteligente- MVF. Novas propostas de integração. In Editora livro rápido (Ed.), (p. 114;115). Recife.


Granjean, E. (1991). Manual da ergonomia - Adaptando o trabalho ao homem (4o edição). São Paulo: Artes médicas editora.


Houglum, P. A., & Bertoti, D. B. (2014). Cinesiologia clínica de Brunnstrom (6o edição). São Paulo: Editora Manole.


Kendall, P. F. et al. (2007). Músculos: provas e funções (5o edição). São Paulo: Manole editora.


Latash, M. L. (2015). Base Neurofisiológica do Movimento (2oedição). Sao Paulo: Phorte editora.


Lieberman, D. E. (2013). A historia do corpo humano: Evolução, saúde e doença. São Paulo: Zahar editora.


Schreiber, S., Parent, E. C., Hedden, D. M., Moreau, M., Hill, D., & Lou, E. (2014). Effect of Schroth exercises on curve characteristics and clinical outcomes in adolescent idiopathic scoliosis: Protocol for a multicentre randomised controlled trial. Journal of Physiotherapy, 60(4), 234. http://doi.org/10.1016/j.jphys.2014.08.005


Weiss, H. R., Negrini, S., Rigo, M., Kotwicki, T., Hawes, M. C., Grivas, T. B., … Landauer, F. (2006). Indications for conservative management of scoliosis (guidelines). Scoliosis, 1(1), 1–5. http://doi.org/10.1186/1748-7161-1-5

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