Saúde

Restrições de mobilidade craniana podem originar disfunção músculo-esquelética

Importância do equilíbrio do Movimento Respiratório Primário (MRP)

A crença que a anatomia das suturas cranianas se assemelhava a uma fratura consolidada e que não possibilitava qualquer movimento perpetuou-se por longos anos na comunidade científica.


Não obstante, três áreas do conhecimento suportam a hipótese que o crânio humano adulto é móvel: [1]

- Antropologia física - pesquisas empíricas indicam que a desobstrução de algumas suturas cranianas ocorre até à nona década de vida, permitindo mobilidade craniana.

- Medicina - estudos indicam a possibilidade de alterações morfológicas cranianas em resultado da aplicação de forças.

- Histologia - estudos definem microscopicamente os factores genéticos que facultam a mobilidade das suturas.


Também Busquet, no livro La Osteopatía Craneal [2], cita estudo experimental da mobilidade do crânio, cuja observação foi efectuada em paciente vivo e com a caixa craniana aberta, com os seguintes resultados obtidos:

- Mobilidade craniana sincronizada com os batimentos cardíacos.

- Mobilidade associada com a mudança de pressão associada à inspiração e à expiração pulmonar.

- Dois tipos de ondas rítmicas independentes das duas anteriores.


Concluiu-se, portanto, que o crânio, por ser articulado, está em movimento. Deste modo, pode desenvolver disfunção osteopática da mesma forma que a coluna ou os membros. Embora a amplitude desse movimento seja mínima, é suficiente para gerar efeitos sobre o funcionamento do corpo.


Definido inicialmente por Sutherland, o Movimento Respiratório Primário (MRP) é um sistema de regulação do organismo, manifestado através de um movimento lento e rítmico do crânio.


Segundo Busquet (2003) [2], cinco factores interferem no MRP:


- Movimentos inerentes do cérebro e da espinal-medula: esta mobilidade do SNC modifica o volume dos ventrículos e provoca uma flutuação do líquido cefalo-raquidiano (LCR).


- Flutuação do líquido cefalorraquidiano: é concêntrica e a alternância de ondas centrífugas e centrípetas proporciona a mobilidade dos ossos periféricos.


- Mobilidade das membranas intra-cranianas e intra-espinhais: base da harmonia ou alterações da respiração cranial. Determina a mobilidade MRP do sacro.


- Mobilidade dos ossos do crânio: aumento do volume do crânio na inspiração e a sua redução na expiração do MRP. Esta mobilidade depende do controlo das membranas de tensão recíproca.


- Movimento involuntário do sacro entre os ossos da pélvis: uma perda de mobilidade do sacro implica uma perda da mobilidade do crânio.


A perfeita flutuação do LCR é, por isso, essencial para a manutenção do equilíbrio do organismo, transmitido para todas as partes do corpo, por intermédio de uma rede ininterrupta de tecido conjuntivo.


As restrições de mobilidade nos ossos do crânio podem, assim, gerar bloqueios na fáscia craniana ou epicraniana, provocando o bloqueio da circulação natural do liquido, e, por conseguinte, diminuindo a comunicação do sistema nervoso com todo o corpo, causando disfunção ou reduzindo a sua capacidade de autorrecuperação. [2, 5]


Sendo o corpo uma unidade completa e indivisível, na consulta o profissional procurará a disfunção e aplicará o respectivo tratamento, utilizando técnicas específicas, directas ou indirectas, restabelecendo a mobilidade e a motilidade perdida entre o sistema músculo-esquelético, sacro-craniano e visceral.


No seu novo curso, Marco Mastrillo convida-te a dares mais um passo na tua especialização: aprender a encontrar restrições, bloqueios ou desequilíbrios que podem afectar o MRP e a flutuação do LCR e a utilizar as técnicas mais adequadas no tratamento. 

Ver Mais

Fonte:

1. Costa, Bernardo (2014). A mobilidade das suturas e ossos cranianos. Dissertação de Mestrado em Antropologia. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

2. Busquet, L. (2003). La Osteopatía craneal. Barcelona: Editorial Paidotribo.

3. Liem, T. (2004). Cranial Osteopathy Principles and Practice. S.l. Elsevier Churchill Livingstone.

4. Schünke, M. et al. (2007). Atlas de anatomia – Prometheus. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

5. Upleger J. E. (2001). Craniosacral Therapy. California: North Atlantic Books.

Partilha este artigo

Share to Facebook Share to Twitter Share to Google + Share to Mail

Newsletter Fica a saber tudo para seres cada vez melhor. Regista-te aqui!