Muito provavelmente já te apercebeste do aumento do número de casos clínicos relacionados com desordens da ATM. E também posso quase garantir que te surpreende a quantidade de utentes que vive há anos com dor orofacial, sem nunca ter procurado ajuda especializada.
Lamentavelmente esse é o cenário atual. A disfunção temporomandibular (DTM) é uma condição clínica cada vez mais prevalente na sociedade atual.
Esta patologia complexa, de caráter cíclico ou transitório, tem origem multifatorial, não sendo, portanto, possível isolar uma causa nítida e universal. [1]
Como sabes, a ATM é uma das mais complexas articulações do corpo humano e, como parte do sistema estomatognático, está diretamente relacionada com funções fisiológicas gerais:
- Interliga tecidos independentes, mantendo a eficiência dos movimentos e a estabilidade da mandíbula.
- Responsável pelos movimentos mastigatórios e pelas atividades funcionais (como falar, mastigar e deglutir), além de atividades parafuncionais (ações realizadas sem um objetivo específico e de forma inconsciente). [2-3]
O que possivelmente não sabes é que a ATM é uma estrutura que sofre continuamente mudanças estruturais. Essas mudanças ocorrem por modelação e remodelação óssea e são responsáveis pela adaptação do tecido articular face às forças contínuas que atuam sobre este.
Ultrapassando o limite da ATM, as forças atuantes nesse tecido tornam-se hostis, favorecendo o aparecimento da DTM [3].
Outro dado que te poderá surpreender é a inexistência de um fator etiológico – propriamente dito – para a DTM, mas antes um conjunto de fatores de risco que, de forma isolada ou em conjunto, contribuem para a disfunção do sistema estomatognático. [4]
Assim, fatores anatómicos, patofisiológicos, psicossociais, hormonais, traumáticos e, inclusive, o género podem contribuir para o desenvolvimento de disfunção temporomandibular. [4]
Desta forma, o entendimento da origem e das características dessas alterações, bem como o planeamento do respetivo tratamento, tem relevância no entendimento da DTM [5-6].
Os fatores psicossociais, como ansiedade, stress e depressão, são considerados atualmente como os principais fatores de risco da DTM [7-8].
O género também parece possuir papel importante na relação com a DTM. Pesquisas recentes concluem que esta alteração é mais comum em mulheres, principalmente em idade fértil.
Assume-se atualmente que os níveis hormonais estão relacionados com o aumento da vulnerabilidade genética à DTM, o que enquadra a alta frequência de DTM em mulheres [9-11].
Não estás a estranhar não referir a oclusão na etiologia da DTM?
Na verdade, a participação dos fatores oclusais e os hábitos parafuncionais na etiologia da DTM são controversos. Segundo alguns estudos, esses distúrbios podem ocorrer em razão de alterações genéticas, traumas e/ou problemas psicossociais e podem produzir alterações suficientes para desencadear problemas na articulação temporomandibular. [5, 12, 13]
Importante ainda esclarecer-te que a DTM pode ser dividida em dois componentes essenciais [4]:
- Muscular
- Articular
Alterações funcionais musculares são as queixas mais comuns. Cerca de 45% dos utentes com DTM tem alteração dos músculos da mastigação, sendo a dor e disfunção miofascial o diagnóstico mais relevante. [14]
O sexo feminino, stress, ansiedade e depressão são fatores de risco apontados para este tipo de patologia muscular. [15-17]
No que respeita ao componente articular o diagnóstico mais frequente são os desarranjos do complexo disco-côndilo. [18] Neste caso, os sons articulares são uma constante. [19]
E agora uma boa notícia para ti!
As mais recentes guidelines sugerem que a abordagem terapêutica beneficia de um envolvimento multidisciplinar e deve iniciar-se com métodos conservadores. [4]
Concluiu-se, portanto, que o exame físico (que inclua palpação da ATM e musculatura, mensuração da movimentação activa e análise de ruídos articulares), quando executado por profissionais treinados, é um instrumento fulcral no diagnóstico e formulação de propostas de intervenção, assim como de acompanhamento da eficácia dos tratamentos propostos.
O recurso à imagiologia tem um papel complementar, sendo útil para suplementar informação obtida pelo exame físico e esclarecer dúvidas de diagnóstico. [4]