Exercício

Agachamento e Posicionamento dos Pés

Numa experiência levada a cabo por Strasse (1917) foi concluído, que a proporção de deslizamento (translação) e rolamento não é a mesma ao longo de todo o movimento de flexão.

É comum durante a realização de um agachamento verificarmos, maioritariamente, duas situações relativamente ao posicionamento dos pés (figura 1 – pés direcionados para a frente; figura 2 – pés direcionados para fora).







A questão, ou questões, que se coloca(m) é/são: qual delas estará correta? Estará alguma errada?


Ora durante a realização de um agachamento, verificamos que a tíbia está “fixa”. Nesta situação, quando iniciamos a fase excêntrica do agachamento (fase descendente) ocorrem a nível do joelho, um movimento de rotação, do Fémur sobre a Tíbia, associado com um movimento de translação (deslize). Se a combinação destes dois movimentos, o Fémur rolaria para fora do platô tibial, o que limitaria a flexão do joelho. Numa experiência levada a cabo por Strasse (1917) foi concluído, que a proporção de deslizamento (translação) e rolamento não é a mesma ao longo de todo o movimento de flexão. O autor afirma que “a partir da posição de extensão máxima o côndilo começa a rolar sem deslizar, depois o deslizamento começa progressivamente a predominar sobre o rolamento, de tal forma que no fim da flexão o côndilo desliza sem rolar!” Para “complicar” ainda mais, existe uma diferença nestes movimentos entre côndilos (interno e externo). Assim, verifica-se que o côndilo externo rola e desliza mais do que o côndilo interno. Ou seja, quando fazemos o movimento descendente do agachamento, o côndilo externo realiza um trajeto, no sentido posterior, quase 2x maior sobre a convexidade da glenóide externa, comparativamente ao trajecto realizado pelo côndilo interno (fig. 3). Os fatores que levam a este movimentação diferente entre os côndilos são: - desigualdade do desenvolvimento do contorno condiliano - a forma das glenóides - o ligamento lateral interno entra em tensão mais rapidamente que o ligamento lateral externo, limitando mais o movimento do côndilo interno comparativamente ao externo.




Desta forma, ao agacharmos, verificamos que o eixo do Fémur e o eixo da Tíbia divergem em cerca de 30° (fig. 4).




Assim, o posicionamento paralelo dos pés, poderá ser lesivo tendo em conta os 30° de divergência acima referidos.


Esta rotação externa da articulação da Coxo-Femoral – e que origina que os pés sejam direcionados para “fora” – promove um alongamento do músculo Adutor Magno, que como sabemos tem um papel importante na extensão do quadril. Assim, tendo em conta a relação existente entre força e comprimento muscular, o Adutor Magno fica numa melhor posição para auxiliar na extensão do quadril e na produção de força durante a fase ascendente do agachamento.


Observação: Existem variações anatómicas (fig. 5) que fazem com que o que foi referido anteriormente necessite de várias adaptações para poderem adequar-se à individualidade biológica do aluno.




Nota: Gostaria de realçar que esta é uma análise que decorre do meu estudo e entendimento sobre esta temática. Assim, sintam-se à vontade para discordar e debater, pois dessa forma aprendemos todos.


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Um texto escrito por Tiago Rocha, coordenador científico para a área do Exercício da Master - Science Lab. Licenciado em Ciências do Desporto, com especialização em Treino de Alto Rendimento Desportivo, é mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário, pela FADEUP e pós-graduado em Reabilitação Neurológica (ESS).

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