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Tendinite ou Tendinose? Como abordar de forma eficaz as lesões dos tecidos moles?

O tratamento das tendinopatias constitui um verdadeiro desafio clínico. Na última década surgiram novas e eficazes linhas de tratamento das lesões tendinosas, entre as quais a Electrólise Percutânea Ecoguiada.


Alguns autores descrevem as tendinopatias como um dos maiores problemas da medicina desportiva (Renstrom, et al., 2008).


Hoje sabe-se que as tendinopatias degenerativas necessitam de técnicas que incidam sobre (1) a biologia do tendão para estimular a actividade celular e a produção de colagénio e (2) a biomecânica do tendão para alcançar uma reestruturação da matriz celular.


Atendendo ao target deste blogue, assumimos que a principal pretensão deste texto é gerar inquietude para que todos se sintam motivados a pesquisar um pouco mais sobre o apresentado e, dentro dos possíveis, sensibilizar para a evolução conceptual que muitas formas de treinar, prevenir e tratar apresentam actualmente.


É bem aceite que, perante um quadro de lesão do tendão, um correcto alinhamento articular e um excelente controlo motor sejam factores decisivos para uma melhor recuperação do mesmo.

Na sequência do exposto, não é possível, por exemplo, recuperar eficazmente um tendão supra-espinhoso se o atleta apresenta uma restrição da mobilidade da articulação escápulo-torácica ou gleno-umeral, ou um deficiente controlo motor de músculos como o trapézio inferior e grande dentado.

Mas será suficiente melhorar o alinhamento articular e controlo neuromuscular caso o tendão apresente verdadeiras alterações estruturais, detectadas com recurso a estudo ecográfico, p.ex.? A tarefa de devolver função máxima ao ombro, será seguramente mais difícil.


As lesões no tendão têm uma prevalência variável que pode alcançar os 40 a 50% em desportos como o voleibol ou aqueles que impliquem actividades de aceleração e desaceleração (Ferreti, et al., 1990; Lian, et al., 1996).

Assim, são vários os desportistas que precocemente abandonam as suas carreiras por apresentarem danos tendinosos.


A grande questão que se coloca é: como recuperar então eficazmente uma lesão no tendão?


O papel da fisioterapia dita convencional (calor, frio, massagem, ultra-som, fricção transversal, ondas de choque, laser, etc) e da medicina (medicamentos anti-inflamatórios e injecções de corticóides) nestes casos continua sem apresentar eficácia com evidência científica (Maffulli, et al., 2008). 


Além do mais, contemporaneamente atribui-se grande parte do insucesso verificado no tratamento das lesões no tendão à lacuna evidenciada por alguns profissionais no entendimento da histopatologia e mecanismos biológicos de regeneração do tendão.


Serão frequentes os casos de tendinites? Não.

Serão frequentes os casos de tendinoses? Sim.

É urgente que todos conheçam as importantes repercussões clínicas (no âmbito da avaliação e tratamento) que a análise etimológica destes dois termos permite.


TendinITIS = lesão no tendão acompanhada de inflamação (associada a processos agudos). Raro.

TendinOSIS = patologia crónica degenerativa sem inflamação (associado a degeneração intratendinosa – lesões por sobreuso relacionado com a idade, microtraumas e compromisso vascular). Muito frequente.


Em resumo, o modelo tradicional de “tendinite” como um processo inflamatório, está actualmente em desuso, pelo facto de existirem numerosas publicações que descrevem o processo patológico do tendão como sendo degenerativo (tendinose).


Esta afirmação é sustentada pela ausência de células inflamatórias e pela presença de zonas de desorganização e falência do colagénio que constitui o tendão, aumento da substância mucóide, anormal neovascularização, focos de necrose e calcificação, que se associa a uma falha nos processos de reparação do tendão (Khan et al., 1999; Riley, 2004).


Se não existe inflamação (tendinite), todas as intervenções cujo objectivo passa por diminuir a inflamação serão ineficazes.


Existindo um processo degenerativo do tendão (tendinose) será determinante utilizar procedimentos que potenciem uma verdadeira regeneração/ reorganização da estrutura do tendão.


Como? 

Que alternativas existem?

Afortunadamente, na última década gerou-se um importante movimento de investigação de novas linhas de tratamento das lesões tendinosas. Na sequência do aduzido, apresentamos aquele que actualmente é tido como um dos mais eficazes tratamentos das lesões dos tecidos moles Técnica de Electrólise Percutânea Ecoguiada.


Em Janeiro de 2014 foi publicada na importante revista Knee Surgery, Sports Traumatology, Arthroscopy um artigo sobre o tratamento da tendinopatia rotuliana. Neste, pode ler-se que resultou num importante aumento da função do joelho, permitindo o retorno à atividade em poucas sessões.

O procedimento foi ainda tido como seguro e sem recidivas (follow-up de 10 anos).

Outros importantes estudos foram já publicados por exemplo em 2013 no International Journal of Physical Medicine & Rehabilitation e em 2014 no International Journal of Clinical & Medical Imaging, validando também a técnica.


Como funciona?

Consiste na aplicação de uma corrente elétrica contínua (CC), através de uma agulha não oca, que atua como elétrodo negativo e cujo objetivo é provocar uma reação electroquímica na região degenerada do tendão. Todo o procedimento é realizado e controlado ecograficamente.

O principal objectivo é produzir uma ablação electrolítica não termal do tecido degenerado (o que potenciará a remoção do tecido tendinoso deteriorado).


Fundamentos da técnica

A corrente elétrica induzida ao atravessar o tecido tendinoso patológico, com amplitude e tempo determinado, produz uma série de mudanças significativas no tendão que promovem a fagocitose e a ativação biológica da reparação/regeneração do tendão que se apresentava alterada pela cronicidade do processo degenerativo (tendinose).


Em resumo, gera um processo inflamatório (surge neo-angiogénese dos capilares adjacentes que invadem a região lesada) especificamente na zona lesada do tendão (daí a importância da realização da técnica com ecógrafo), que é absolutamente determinante para reativar os mecanismos de regeneração da área intervencionada.


Na prática:

1. Avaliação clínica + avaliação ecográfica

2. Seleção dos parâmetros adequados

3. Aplicação da técnica ecoguiada


Benefícios relativamente a outras técnicas:

1. É um tratamento local no ponto exacto da lesão. Com a ajuda do ecógrafo, aplica-se de forma directa sobre o tecido alterado e/ou degenerado. Segurança e precisão do procedimento.

2. Inicia eficazmente a reparação do tecido afetado. É capaz de iniciar um novo processo de proliferação do tecido de colagénio que, nestes casos, se encontra desagregado.

3. As modificações na estrutura e no comportamento mecanobiológico do tecido mole são imediatas e em tempo real.

4. A efetividade é muito alta comparativamente a tratamentos convencionais de fisioterapia ou médicos.

5. A frequência de recidivas é baixa.


Indicações:

Tendão: lesão tendões bainha simples (aquiles, rotulado, supra-espinhoso, etc), de dupla bainha (tibial posterior, longa porção do bicípite braquial, poplíteo, perneais, etc), pós cirúrgicos (rotuliano pós ligamentoplastia LCA OTO, por ex)

Músculo: roturas musculares agudas e crónicas, fibroses, pontos gatilho

Ligamento: entorses fase aguda e crónica

Outros: fasceite plantar, túnel cárpico, periostite, quisto parameniscal, etc 

Ver Mais

Fonte:

Tendinopathy: A Major Medical Problem in Sport. Tendinopathy in Athletes.

Tendinopathy and tendon injury: the future. Disabil Rehabil

Knee Injuries in Volleyball. Injury Clinic.

Relationship between symptoms of jumper's knee and the ultrasound characteristics of the patellar tendon among high level male volleyball players. Scand J Med Sci Sports.

Tendon and ligament biochemistry and pathology.

Etiology of tendinopathy. Tendinopathy in Athletes.

Intratissue Percutaneous Electrolysis (Epi®) in the Treatment of Patellar Tendinopathy.

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