Saúde

O domínio das emoções no processamento da dor

Estados emocionais negativos e foco excessivo na dor podem levar a limitação na realização de movimentos

De acordo com a Associação Internacional do Estudo da Dor, a dor é descrita como "uma experiência sensorial e emocional desagradável”. É o primeiro sinal de qualquer lesão tecidular. No entanto, a dor é muito mais do que uma sensação; inclui, obviamente, a percepção, a interpretação subjectiva do desconforto.


A percepção da dor dá informação sobre o local, a intensidade e a natureza da dor. É, claramente, algo multidimensional, diferente de indivíduo para indivíduo, completamente dependente do contexto e do estado psicológico e emocional da pessoa.


Sem dúvida alguma, que a sensação de dor é essencial para a experiência humana. Embora, muitos profissionais ainda a vejam e a tratem apenas como componente sensorial (visão unidimensional), é fundamental, também, ter em atenção características emocionais, cognitivas, afectivas, fisiológicas e socioculturais (visão multidimensional).


Categorizações da dor:


A dor é tradicionalmente dicotomizada em dois tipos: dor aguda e crónica.


A dor aguda pode ser vista como um “sinal de alarme”. É uma percepção provocada pela interacção entre muitas redes neuroimunológicas. “Sensores de alarme” (nociceptores) detectam alterações que podem colocar em risco a integridade dos tecidos / sistema (=lesão). Por outro lado, a dor crónica é aquela que persiste ou se prolonga por mais de três meses.


Normalmente, existem mudanças: neurais; biológicas; psicológicas (medo, ansiedade, depressão); sociais (retracção social).


O estado emocional e a sua relação com os níveis de dor:


Actualmente, muito se tem vindo a analisar sobre os efeitos do estado emocional e dos factores de resiliência (auto-eficácia, esperança e pensamento positivo) na promoção da saúde mental e física.


Estudos de neuroimagem evidenciam que estados emocionais negativos e o foco excessivo na dor, podem levar a pessoa a entrar num círculo de medo, evitando a realização de movimentos. Esse asilo ao movimento faz com que se altere a estrutura e a função dos circuitos cerebrais da região frontal.


Por outro lado, pessoas com grandes níveis de optimismo e com um estado emocional positivo, são muito mais capazes de lidar de uma forma mais eficaz com os factores de stresse; resolver os desafios do dia-a-dia; determinar metas e objectivos para a sua recuperação; serem pró-activas no seu processo de reabilitação e readaptação.


Investigações importantes, salientam que o exercício que integra a dicotomia corpo-mente (meditação) diminui a dor e tem efeitos complacentes sobre a massa cinzenta do cérebro e a conectividade dentro dos circuitos moduladores da dor.


Exemplos:


Vários estudos evidenciam que indivíduos com cancro no pulmão, cérebro e pescoço, TCE, artrite reumatoide, distúrbio temporo-mandibular e osteoartrite, com expectativas positivas e grande optimismo na sua recuperação, apresentam menos sintomatologia dolorosa, menor incapacidade funcional e maior satisfação pessoal; pacientes com dor na região pélvica e/ou fibromialgia, relatam adversidades durante o período de infância (divórcios ou conflitos familiares) e/ ou determinados problemas na idade adulta. Isso conclui que o stresse (diminuição da dopamina e serotonina) e o trauma psicológico podem despertar ou exacerbar a dor.


A título de curiosidade:


No século II, o poeta romano Juvenal já apelava à ligação entre o corpo-mente (“mens sana in corpo sano”).


Actualmente, todos os profissionais da área da saúde devem-se reger pelo modelo biopsicossocial, que implica um processo de tratamento baseado nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais do individuo. Nesse sentido, são notórios a procura e o aconselhamento de aplicações móveis e exercícios que ajudem no relaxamento mental para o encontro do bem-estar pessoal.

Ver Mais

Fonte:

Basten-Günther, J., Peters, M., & Lautenbacher, S. (2018). Optimism and the Experience of Pain: A Systematic Review. Behavioral Medicine, 0(0), 1–17.

Becker, S., Navratilova, E., Nees, F., & Van Damme, S. (2018). Emotional and Motivational Pain Processing: Current State of Knowledge and Perspectives in Translational Research.

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Bushnell, M. C., ?eko, M., & Low, L. A. (2013). Cognitive and emotional control of pain and its disruption in chronic pain. Nature Reviews Neuroscience, 14(7), 502–511.

Goodin, B. R., & Bulls, H. W. (2014). Optimism and the experience of pain: Benefits of seeing the glass as half full. Current Pain and Headache Reports, 17(5).

Radcliffe, A. M., Cano, A., Keefe, F. J., Lumley, M. A., Schubiner, H., Porter, L. S., … Cohen, J. L. (2011). Pain and emotion: a biopsychosocial review of recent research. Journal of Clinical Psychology, 67(9), 942–968.

Silva, J. A., & Ribeiro-Filho, N. P. (2011). A dor como um problema psicofísico. Revista Dor, 12(2), 138–151.

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