Em Portugal realizam-se cerca de 4.000 cirurgias estéticas mensalmente. Um número que certamente o vai espantar.
As aderências são uma consequência comum, por vezes grave, de todos os procedimentos cirúrgicos. No entanto, a sua incidência pode, frequentemente, ser reduzida e até, por vezes, prevenida com a fisioterapia.
As aderências cirúrgicas formadas a partir do do tecido conjuntivo que prolifera no processo de formação cicatricial, são portanto o resultado de uma resposta neurofisiológica anormal à lesão tecidular provocada pelo corte cirúrgico. Quando esse tecido apresenta carácter mais denso e fibroso, ocorre também a formação de fibroses.
As aderências podem aumentar de tamanho e tornarem-se mais rígidas, acometendo órgãos viscerais e prejudicando o seu funcionamento.
As cicatrizes provocadas pela cirurgia podem resultar em dores e em défices de mobilidade, devido às restrições no movimento dos músculos, fáscias e vísceras. Compensações posturais surgem frequentemente associadas a estas situações.
As dores podem não surgir apenas na região em que se localiza a cicatriz. É até mais frequente o seu aparecimento numa região à distância devido à tensão miofascial.
De seguida apresentaremos três casos distintos, acompanhados pela Fisioterapeuta Neide Gomes, cujos resultados são impactantes do ponto de vista clínico, mas também da qualidade de vida do paciente.
1. Lombalgias e aumento do perímetro abdominal após abdominoplastia
Paciente operada há 9 meses sem reabilitação pós-cirúrgica, procurou ajuda clínica devido a sintomatologia de dor lombar persistente e rigidez lombar.
Avaliação e diagnóstico: Desenvolvimento e acumulação de aderências cirúrgicas que provocaram retracções miofasciais e que induziram a postura evidenciada nas imagens abaixo, conduzindo a dilatação abdominal e consequente aumento da curvatura fisiológica lombar.
Sabemos que a abdominoplastia implica duas suturas: a sutura do recto abdominal e a sutura da pele, o que permite a deposição de aderências numa vasta área da cavidade abdominal.
Numa única sessão de tratamento, procedeu-se ao rompimento de aderências através de terapias manuais, aplicaram-se técnicas de tratamento miofascial e ainda reeducação postural. As dores resolveram-se na própria sessão e os resultados foram os que se evidenciam nas imagens abaixo.
2. Cicatriz hipertrófica, com algumas porções quelóides
Paciente submetido a pequena cirurgia em ambulatório após episódio de queda. Foi suturado por cirurgião plástico, mas acabou por ficar com uma deformidade muito evidente e numa região muito exposta. O utente não se sentia confortável com a cicatriz que, para além de dolorosa, era também esteticamente muito desagradável.
Quelóides assinaladas com círculo na imagem e com acentuado relevo na região de impacto da queda (as setas apontam a região onde a cicatriz afunda, uma vez que na fotografia essa profundidade não é muito perceptível).
Após 5 sessões de terapia manual nas cicatrizes e nos tecidos circundantes, com técnicas de libertação e mobilização tecidular e fascial, e drenagem de conteúdo cicatricial, os resultados são evidentes.
3. Pós-cirúrgico de ritidectomia
Paciente apresentou queixas de flacidez cutânea 3 meses após a cirurgia, conforme imagem abaixo (primeira). A aparente flacidez foi provocada pela tensão no esternocleidomastóideo, trapézio e paravertebrais direitos. Ao realizar tratamento com terapia miofascial, o resultado foi imediato (segunda imagem). Neste caso, o aspecto exterior denunciou um desequilíbrio ao nível da cervical ainda antes da dor surgir.
Após leitura deste artigo ainda considera que a reabilitação da cirurgia estética é uma questão meramente estética? Estamos certos que não.
Testemunho gentilmente cedido pela fisioterapeuta Neide Costa, com autorização dos pacientes envolvidos.