Saúde

MÉTODO HIPOPRESSIVO: A MUDANÇA DE UM PARADIGMA - EXERC. ABDOMINAL

Desde há anos que as promessas de solução para a redução do perímetro da cintura ou diminuição do índice de massa gorda fazem correr muita tinta. Felizmente, ao nível da saúde e do exercício físico, alguns dos principais paradigmas, relacionados com esta área, começam a mudar e a evoluir, em prol do bem-estar do Homem. Já conhece o Método Hipopressivo? Se não, não sabe tudo o que anda a perder/fazer.

Abdominais tradicionais: tanto esforço para tão poucos resultados
A maioria das pessoas ainda associa uma barriga plana a exercícios abdominais tradicionais, isométricos e/ou pranchas. Mas será assim? Não.
De acordo com um estudo publicado pelo Journal of Strength and Conditioning Research (1), os exercícios abdominais tradicionais não reduzem a cintura, não diminuem o índice de massa gorda nem aumentam de forma significativa a força concêntrica ou excêntrica da faixa abdominal.

Já outras investigações tinham referido que os abdominais clássicos provocam um aumento da pressão abdominal apresentando maior risco de desenvolvimento de hérnias abdominais, inguinais e discais, disfunções sexuais, prolapsos uterinos e incontinência urinária, principalmente nas mulheres.

Relação entre o excesso de esforço do pavimento pélvico e a incontinência urinária
A faixa abdominal, composta pelos músculos abdominais (rectos, oblíquos e transverso), é constituída por 4% de fibras musculares fásicas/voluntárias, 75% de fibras musculares tónicas/involuntárias e tecido conjuntivo (estruturas fibrosas). (2)

Esta estrutura, para além de não ser trabalhável da forma tradicional, não se encontra preparada para realizar um trabalho de força mas sim de sustentação, dada a sua carga máxima ser de 30Kg nos homens e de 18Kg nas mulheres.

Assim, quando realizamos um exercício abdominal tradicional, em que o tronco é elevado, é solicitada uma força maior para suportar estas cargas. Como consequência, são activados outros músculos compensatórios que, a longo prazo, vão desencadear problemas em estruturas como a coluna vertebral e a bacia.

Este tipo de exercício tradicional produz ainda um efeito hiperpressivo sobre o abdómen, incompatível com a tonificação desta zona, que favorece o prolapso do abdómen e aumenta a pressão no pavimento pélvico, principalmente nas mulheres, potenciando o aparecimento de casos de incontinência urinária, prolapsos, sensação de peso na zona vaginal, desconforto ou falta de firmeza vaginal durante as relações sexuais e respectiva falta de satisfação nas mesmas.

Prevalência dos problemas génito-urinários em Portugal
Os esforços repetidos ao longo da vida (tosse crónica, espirros, agarrar em pesos, obstipação persistente ou prática desportiva inadequada), principalmente nas mulheres e, especialmente, na gravidez e no pós-parto, estão na origem de inúmeras situações que acometem a saúde e funcionalidade da zona génito-urinária, acabando por afectar seriamente a qualidade de vida destas mulheres.

De acordo com um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) em parceria com a Associação Portuguesa de Urologia (APU), 1 em cada 5 portugueses com mais de 40 anos sofre de incontinência urinária (IU). (3)

Uma outra investigação da mesma instituição revelou que a gravidez e o parto induzem IU em 20% das mulheres. (4)

Ainda de outro estudo da FMUP em parceria com a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, sabe-se que ao nível desportivo, 29% das atletas portuguesas entre os 14 e os 40 anos sofrem de IU, sendo a incontinência por esforço a mais frequente, o que as impossibilita de ter uma melhor performance, quer pelo desconforto quer frustração.(5)

O facto da prática desportiva exigir um esforço moderado, que aumenta a pressão abdominal, implica uma agressão directa para o pavimento pélvico, acabando este por se debilitar.

Um novo paradigma: O Método Hipopressivo
Apaixonado pela reeducação uroginecológica e atento ao número crescente de casos de patologias nesta região, remontamos a 1980, altura em que Marcel Caufriez, fisioterapeuta belga, iniciou vários estudos no Laboratory for Experimental and Applied Human Ecofisiology, com o objetivo de criar uma técnica que tonificasse, de forma saudável e conjunta, a musculatura da faixa abdominal, do assoalho pélvico e dos estabilizadores da coluna, ao mesmo tempo que se trabalha a resistência muscular.

É neste contexto que surge o conceito da Ginástica Abdominal Hipopressiva (GAH), cujos exercícios, ao induzirem uma diminuição da pressão intra-abdominal, potenciam e provocam, por via reflexa, a tonificação da faixa abdominal e dos músculos do períneo. Este aumento do tónus muscular vai gerar sucção sobre as vísceras pélvicas, pela subida do diafragma, diminuindo a tensão ligamentar e potenciando a função natural de sustentação destas estruturas que suportam os órgãos internos abdominais e pélvicos.

É durante a prática desportiva que se verificam importantes aumentos de pressão. Assim, quando o tónus muscular é insuficiente, o risco de aparecimento de hérnias abdominais, inguinais, umbilicais, discais aumenta. No caso das mulheres, verificam-se até, por vezes, o aparecimento de hérnias vaginais e a descida dos órgãos pélvicos.

A garantia e a conquista de uma faixa abdominal eficiente, que sustente os órgãos internos e proporcione um eficaz suporte à coluna, através das técnicas hipopressivas, deve estar na base da prevenção destas patologias. Espectacular. E quanto tempo é necessário até à observação de resultados? Uma investigação recente demonstrou que existem resultados a partir da primeira sessão. (6)

Por sua vez, os utentes referiram obter sensações que nunca haviam experienciado com nenhuma outra prática físico-desportiva, referindo notar uma subida dos órgãos internos pela diminuição da pressão e observar uma contracção involuntária da faixa abdominal e do períneo. Evidentemente que o tempo necessário para se alcançarem resultados a médio-longo prazo depende por completo do estado clínico em que se apresenta o utente. Porém, a mesma investigação científica sugere que dois meses de prática regular (20 minutos diários, dois dias por semana, no primeiro mês e a cada cinco dias no segundo mês) são suficientes para se observarem os benefícios descritos.

Ver Mais

Fonte:

1. Vispute, Sachin, Smith, John, LeCheminant, James, Hurley, Kimberly in The Effect of Abdominal Exercise on Abdominal Fat, 2011

2. Pinsach P, Rial T., Chulvi-Medrano I., Caufriez M., Carlos Fernandez J., Devroux I., Ruiz K. in Hypopressure Techniques, a Paradigm Shift in Abdominal Training

3. Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) in Prevalência e tratamento de incontinência urinária na população portuguesa não institucionalizada, 2008

4. Parente MP, Jorge RM, Mascarenhas T, Fernandes AA, Martins JA in Deformation of the pelvic floor muscles during a vaginal delivery, 2008

5. Mascarenhas, T., in Pelvic Sport, 2007

6. Rial, Sousa, García e Pinsach, 2012

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