Saúde

A NEUROCIENTISTA QUE REABILITOU O SEU PRÓPRIO CÉREBRO APÓS AVC

  • Jill Bolte Taylor teve uma oportunidade de investigação que poucos neurocientistas desejariam ter: sofreu um AVC e viu as suas funções cerebrais - movimento, fala, consciência de si – cessarem, uma por uma. Uma talk imperdível, da qual retiramos algumas das principais transcrições para instigar a sua curiosidade.

    "Na manhã do AVC, acordei com uma forte dor por detrás do meu olho esquerdo. Era daquele tipo de dor cáustica que sentimos quando damos uma dentada num gelado. A dor apertou-me e depois libertou-me. Era muito invulgar eu sentir qualquer tipo de dor, por isso pensei: "Ok, vou começar a minha rotina normal".

    "(...) Depois perdi o equilíbrio, fui contra a parede. Olhei para o meu braço e apercebi-me que não conseguia definir os limites do meu corpo. Não conseguia definir onde começava e acabava, porque os átomos e moléculas do meu braço misturaram-se com os átomos e moléculas da parede. Só conseguia detectar esta energia - energia."

    “E perguntei a mim mesma: "O que é que se passa comigo? O que é que está a acontecer? Nesse momento, a voz dentro do meu cérebro - a voz do meu hemisfério esquerdo - calou-se completamente. Já não conseguia identificar os limites do meu corpo. (…) De repente, o meu hemisfério esquerdo voltou a estar online, e disse-me: "Hei! Temos um problema! Precisamos de ajuda."

    "Nesse momento o meu braço direito paralisou totalmente. Então percebi. "Meu Deus! Estou a ter um AVC! Estou a ter um AVC!" (…) E o meu cérebro disse-me a seguir: "Uau! Isso é fixe!" Quantos neurocientistas têm a oportunidade de estudar o seu cérebro de dentro para fora? (…) Depois passou-me pela cabeça: "Mas eu sou uma mulher muito ocupada!" Não tenho tempo para um AVC!"

    "Por fim, marquei o número todo, fico ao telefone, o meu colega atende e eu digo algo que soa como: "Uoo-uoo-uoo-uoo.". Pensei: "Meu Deus! Pareço um Golden Retriever!" Ele percebeu que eu precisava de ajuda e arranjou-me ajuda."

    "Quando acordei nessa tarde, fiquei chocada ao descobrir que ainda estava viva. Os estímulos que entravam através dos meus sistemas sensoriais eram pura dor. A luz queimava o meu cérebro como se fosse fogo, e os sons eram tão altos e caóticos que eu não conseguia distinguir uma voz do barulho de fundo, e só queria fugir."

    "Depois, apercebi-me do tremendo presente que esta experiência podia ser, que podia ser um acesso de introspecção, sobre a forma como vivemos a nossa vida. E isso motivou-me a recuperar. Duas semanas e meia após a hemorragia, os cirurgiões removeram um coágulo do tamanho de uma bola de golfe que estava a pressionar os meus centros de linguagem."


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